sábado, março 17, 2018

Veneza Afogada em Turistas

Desde sempre, Veneza foi um dos principais destinos turísticos do mundo devido às suas obras de arte e arquitetura singular, e ao seu rico património cultural, musical e artístico. Uma parte da cidade está listada como um Património Mundial, juntamente com a sua lagoa.
Assim, o turismo é um setor importante da economia veneziana desde o século XVIII, quando a cidade era um importante centro para o Grand Tour (tradicional viagem luxuosa pela Europa), tornando-se um centro de moda para os ricos e famosos desde o século XIX. Na década de 1980, o Carnaval de Veneza foi reavivado e a cidade tornada um grande centro de conferências e festivais internacionais, como a prestigiada Bienal de Veneza e o Festival de Veneza, que atraem visitantes de todo o mundo pelas suas produções teatrais, culturais, cinematográficas, artísticas e musicais. As principais atrações são o Campanário e Basílica da Praça de São Marcos, o Grande Canal e os famosos passeios de Gôndola veneziana. Também estão incluídas algumas atrações de luxo, como o Hotel Danieli, o Caffè Florian e o Lido di Venezia, atraindo milhares de atores, críticos, celebridades e principalmente pessoas da indústria cinematográfica. A cidade também depende muito do negócio de navios de cruzeiro: o Comité de Cruzeiros de Veneza estimou que os passageiros de navio de cruzeiro gastam mais de 150 milhões de euros anualmente na cidade.
No entanto, a popularidade da Cidade dos Canais aumentou o número de turistas para valores alarmantes: 5,5 milhões, segundo a Euromonitor, 24 milhões, de acordo com El País, e 27 milhões segundo a Euronews. Qualquer que seja o número certo, de uma coisa temos a certeza: é a cidade mais visitada, comparando com a sua área ou os 50 mil habitantes que têm que lidar com uma média de 70 mil turistas diferentes diariamente, ficando superpovoada na maioria parte do ano. A competição entre estrangeiros para comprar casas em Veneza tem feito os preços subirem de tal forma que vários habitantes da cidade foram forçados a deslocar-se para áreas mais acessíveis da Itália. Estima-se que a sua população diminuiu dois terços desde a década de 1950, perdendo atualmente mil habitantes anualmente. Além disso, estima-se que até 2030 a população local possa desaparecer, o que tem originado vários protestos (Generazione ’90) e até atos de turismofobia. Esse é apenas um dos problemas levantados pela superexploração turística.
Segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês), os cinco grandes riscos que as cidades enfrentam quando a popularidade se transforma em sobrelotação são: habitantes empurrados para fora das cidades, experiência turística desvirtuada, infraestruturas sobrecarregadas, impactos negativos sobre a natureza e ameaças à herança cultural. Esses últimos riscos são postos em causa pelo tráfego de cruzeiros, que quintuplicou em Veneza nos últimos 15 anos, transformando o encanto da sua laguna em um grotesco postal com barcos gigantes a poucos metros do Palácio Ducal.
Assim, a pedido de Italia Nostra, o Governo aprovou, para entrar em vigor em janeiro de 2018, a redução gradual do tráfego dessas mega embarcações, ficando aberto aos navios com menos de 55.000 toneladas. A medida responde a uma das condições impostas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para evitar que Veneza fosse eliminada da lista de cidades património da humanidade. Um plano para que o frágil ecossistema urbano de 455 pontes que unem as 118 ilhas da cidade não fique à deriva. Também chegou-se a ponderar a possibilidade de frear o fluxo de turistas em toda a cidade, colocando obstáculos ou cobrando à entrada. O que não seria estranho, uma vez que os italianos têm que pagar para ter acesso à maioria das praias. Outra medida que vai ser replicada em Veneza é o plano especial para acomodação de turistas, que limita o número de camas em hotéis e apartamentos, que foi iniciada em Barcelona em janeiro de 2017.
Assim, espera-se que estas medidas, ou outras mais criativas, façam face aos riscos em causa e tornem o turismo mais sustentável.

Lucian Cristian Lipciuc 

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

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