segunda-feira, março 12, 2018

Sexta 13 - Noite das Bruxas em Montalegre

Há na vila transmontana de Montalegre uma tradição amaldiçoada. Falo da Noite das Bruxas, um acontecimento bem conhecido de muita gente e que traz um sem número de pessoas até Montalegre todas as sexta-feira que no calendário coincidem com o dia treze de qualquer mês.
É um evento que se pode presenciar em qualquer altura do ano, assim o calendário ajude, e nem o frio polar nem o calor abrasador demovem as bruxas e os foliões que aparecem um pouco de todo lado, inclusive do país logo ali ao lado, Espanha.
Trata-se de uma tradição iniciada pelo já famoso Padre Fontes, um pároco da região que teve a ideia de juntar ao costume americano, o Halloween, uma tradição de uma terra vizinha de Montalegre, Vilar de Perdizes. Começou por ser uma cerimónia de pequenas dimensões, tratando-se na sua essência de um jantar de amigos bem-dispostos, ao qual sucedia o ingerir da “queimada”, bebida de receita misteriosa, mas devidamente abençoada pelo próprio Padre Fontes. De resto, este é, atualmente, o principal anfitrião e personagem deste evento. A ele coube a invenção e a sua dinamização ao longo dos anos, segundo consta, desde 2002.
Toda a noite, e até o dia, embora com menor afluência, é de festa, com muita animação, devidamente apoiada pela câmara municipal local, mas também por muitos outros personagens que se vão espalhando pelas ruas. Passa-se no centro da vila transmontana mas tem como epicentro o Castelo Medieval, património imponente e bem enquadrado com toda a peça que se apresenta em palco. Ali, o herói, Padre Fontes, liberta as bruxas, que simbolizam a sabedoria popular, para enfrentarem o mal, e o culminar de toda a encenação dá-se com as falas já tradicionais, em que o Pároco convida todos a beberem da sua queimada e a expulsar de si todos os males.
O evento apresenta um crescimento constante e teve na última sexta 13, em Outubro de 2017, o seu maior registo de participantes, com um cálculo estimado de cerca de 60 mil visitantes. Todo o alojamento local encontrava-se esgotado, tendo também chegado até às localidades vizinhas, desde Vilar de Perdizes a Chaves. Naturalmente, o impacte económico é consideravelmente significativo, essencialmente para os pequenos empresários locais. Sabe-se que o valor despendido pela câmara ronda os 150 milhares de euros, o que se trata naturalmente de um investimento, face aos retornos que traz para a própria vila, como para os seus habitantes, tanto em prestígio e reconhecimento como em fator de desenvolvimento de riqueza, de qualquer natureza.

António Pedro Pereira

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

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