sábado, abril 22, 2017

O milagre de Fátima


Neste artigo resolvi abordar um tipo de turismo que por esta altura está muito presente no nosso país, o turismo religioso, mais concretamente Fátima, tema que tem tanto de religioso como de polémico, pois é sempre colocada na “balança” a componente religiosa vs. A componente económica.
Se, por um lado, existem pessoas que olham para o Santuário de Fátima com uma visão completamente crente e de extrema Fé, existe, por outro lado, quem tenha um olhar mais sóbrio sobre este tema, e pense em Fátima como exclusivamente uma fonte de rendimento para a Igreja.
Este tipo de turismo é caraterizado pelas viagens/peregrinações em que o turista procura experiências espirituais, relacionadas com as práticas religiosas, como é o caso de Fátima, na Fé católica. O turista religioso enquadra-se então nas peregrinações, nas romarias, nas festas religiosas, na procura de espaços e edifícios religiosos para visitar e conhecer (como são os casos dos templos, igrejas e santuários), ou também na realização de um itinerário ou rota de caráter religioso, como é o exemplo de Fátima ou, também, o caminho de Santiago de Compostela.
Em Portugal, país com uma mentalidade tradicionalmente católica e muito vincada nesse sentido, é difícil escrever ou pronunciar uma opinião sobre esta matéria sem ser “crucificado”. Na minha ótica, observo Fátima com um olhar meramente turístico e económico, o que não é de todo mau, nem de algum modo depreciativo, pois também concordo que é uma atração/ponto turístico de grande sucesso no nosso país, senão o maior ponto de atração turística de Portugal. Lembrando que somos conhecidos noutras regiões do globo como o país dos três “Fs” (Fado, Futebol e Fátima).
Este entusiasmo e crença que giram à volta das aparições de Fátima são muito favoráveis para a economia do nosso país, e também daquela região. Os turistas que visitam todos os anos Fátima vêm de todo o lado do mundo, e cada vez mais cresce o número de nacionalidades e culturas que visitam todos os anos a Cova da Iria.
Alexandre Marto, proprietário do Fatima Hotels, deu recentemente uma entrevista à revista Visão (11.03.2017) em que afirma: “Das quase 730 mil dormidas de 2015, cerca de 70 por cento foram de estrangeiros. Se a elas juntarmos as reservas nos alojamentos das instituições religiosas, o número supera o milhão de pessoas”. Números estes que se transformam num consequente retorno económico bastante avultado, como aliás também refere Alexandre Marto: “Não é preciso ser vidente para profetizar que os ganhos recentes, mais de 27 milhões de euros, serão superados com a visita do Papa.”
Depois deste testemunho de Alexandre Marto, proprietário do Fatima Hotels, facilmente se consegue compreender, através destes excessivos números, o quão é importante manter este “ponto de atração turístico”, alimentando sempre esta Fé em todos os crentes, e não só, pois existem também inúmeros turistas que visitam o Santuário de Fátima apenas para presenciar esta Fé que move multidões todos os anos.
Tudo isto se reflete num avultado retorno económico, a nível local, regional e até nacional. Toda esta onda de Fé reflete-se em diversas áreas,  como por exemplo no lucro gerado pelas unidades hoteleiras, através das estadias por parte dos visitantes, na restauração, com a visita destes mesmos turistas para fazerem as suas refeições, mas também com o intuito de saborearem as melhores especialidades do nosso país a nível gastronómico. Essas visitas refletem-se também no comércio local, com a venda de porcelanas e objetos alusivos a Fátima e ao Santuário, sem esquecer o “negócio” que se faz dentro do próprio Santuário, que reverte em favor da “Fé cristã”, como por exemplo a pira de velas perto da capelinha das aparições.
Contudo, sob o meu ponto de vista, nem tudo que se realiza neste produto turístico que é Fátima é bom, ou seja, existem pontos negativos neste destino do chamado Turismo Religioso. Exemplo disso mesmo são os acidentes que todos os anos se registam e que envolvem o atropelamento de peregrinos que fazem o seu percurso até ao Santuário de Fátima. Por isso, seria imprescindível tentar melhorar a segurança rodoviária nesta altura do ano, para que os mesmos consigam realizar o seu itinerário em segurança.
Outro problema registado nestas altura do ano em Fátima é a inflação de preços por parte de todos os comerciantes, sejam eles pertencentes à hotelaria, restauração ou ao comércio, havendo ainda relatos de particulares a arrendar as suas próprias habitações, ou divisões da mesma, anexos, garagens, etc., para a obtenção de lucros.
Por experiência de pessoas próximas, tenho ainda o conhecimento, através do relatos das mesmas, de cafés a cobrarem dinheiro por um simples copo de água, o que me leva mesmo a pensar que tudo isto não passa de um bom negócio para quem lá habita, e que até um simples copo de água serve para realizar capital.
Em suma, consigo olhar para este “evento”, e para tudo que o complementa, que se realiza todos os anos a 13 de Maio no Santuário de Fátima, como um grande evento no que diz respeito ao Turismo Religioso, onde Fátima, sem dúvida alguma,  deu a conhecer o nosso país à escala mundial, e ano após ano o número de visitantes, nacionais e estrangeiros, aumenta de forma impressionante, trazendo óptimas receitas e vantagens para aquela região e para o nosso país.
Porém, para mim, fica sempre esta dúvida no ar: será que é a Fé cristã que move o negócio de Fátima ou, pelo contrário, o negócio de Fátima é que move a Fé cristã ? Fica a dúvida. pppppparrendar as suas prs suas prs dentes, sejam eles pertencentes entos a peregrinos de FaTurarmos

Afonso Teixeira

 Bibligrafia:
http://www.jornaldenegocios.pt/empresas/turismo---lazer/detalhe/papa-em-fatima-quase-mil-euros-por-uma-noite-em-saco-cama

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho]


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