quarta-feira, abril 19, 2017

Nortenhos DeGema

O Minho detém uma identidade cultural muito vincada e uma maneira de ver e viver a vida que tornam a região única. A própria pronúncia ou sotaque minhoto, que se tem perdido um pouco, evidenciam ainda mais a sua identidade cultural. E é aqui que entram empresas que primam pela inovação, mas mantendo a tradição e remetendo para essa vertente linguística, como é o caso do DeGema.
Milton Araújo, proprietário da Ferreira Capa (uma conceituada pastelaria em Braga), juntamente com o seu irmão, Marcelo Araújo, realçam a vontade de uma equipa jovem em repescar o passado e perpetuá-lo de uma forma totalmente inovadora. Surge assim a empresa DeGema, criada em 2013, em Braga e “genuinamente nortenha”, como é descrita no seu sítio, que prima pelo seu caráter inovador no que concerne ao fabrico artesanal dos seus hambúrgueres, aliado aos peculiares nomes a eles atribuídos, remetendo para expressões tipicamente nortenhas. Assim, não é de estranhar pedir um “TOU BARADO” (sim, a troca dos “bês” é real, no geral), ou um “PENICO DO CÉU”, um “QUE MORRINHA” ou até um “BACAS ANTRE O MILHO”.
Apesar de ter nascido em Braga, esta empresa foi para lá do Minho e pode ser encontrada também no Porto, em Vila do Conde e na Maia, o que comprova o seu sucesso.
Assim, esta hamburgueria detém aqui um papel importante por imiscuir a tradição não só no fabrico artesanal dos seus hambúrgueres como nos nomes a eles atribuídos, demarcando fortemente a língua portuguesa, em especial, esta variante linguística regional. Pretende inserir-se no contexto urbano, daí o seu interesse no fabrico de hambúrgueres, que é um produto alimentício que se generalizou entre a população. Se os hambúrgueres não for o forte de quem lá vai, o menu dispõe também de saladas ou mesmo de gelados feitos artesanalmente.
Além dos sabores tradicionais, a hamburgueria DeGema prima pela diversificação de sabores, conotando assim para uma vertente mais cosmopolita, podendo fazer-se chegar a um público mais generalizado. Aliado ao conceito inovador de fabrico artesanal dos produtos, também a tradição se encontra presente na hora de pedir um hambúrguer, já que os nomes se adaptam à cultura local.
A pronúncia não é algo que se estude e aprenda na escola, é uma herança que vai passando pelas várias gerações e que provém do convívio e espaço cultural e familiar da região. Assim, a sua continuidade no seio de uma dada região encontra-se inerente ao uso das palavras e expressões usadas pela população que, ao interagir entre si, faz prevalecer as suas carateríscas linguísticas. Ainda assim, com o alargamento da informação, as idas à escola, o contacto com outras pessoas, permite estabelecer interações que poderão influenciar o modo de falar das pessoas. Até mesmo por vergonha, as pessoas poderão querer alterar a sua pronúncia.
A preservação do património linguístico, que sem dúvida marca uma dada identidade cultural, é primordial e, para que não se vá esmorecendo, é necessário recolher e divulgar as tradições orais inerentes a cada região, como, por exemplo, contos, cantigas, lengalengas, provérbios e mesmo recorrer a palavras e expressões tradicionalmente regionais nos diálogos quotidianos.
Neste caso, a prevalência das expressões minhotas poderá ser um pouco mais prolongada, já que quem vai ao DeGema, com certeza, que não ficará indiferente nem aos sabores nem às suas designações, podendo provocar interações e discussões acerca do tema, e passar a palavra quanto a este conceito inovador. Ou, quanto muito não seja, ir ao DeGema e “BAI-ME À BENDA”.

Vânia Daniela Martins Moreira

Sítio do DeGema: www.degema.pt
https://nit.pt/buzzfood/04-01-2016-porto-prove-hamburgueres-a-moda-de-braga-com-sotaque-tripeiro.

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho]

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