segunda-feira, abril 24, 2017

´City Breaks` em Portugal

Nas últimas décadas, o setor turístico tem apresentado constantes modificações no que diz respeito à sua procura e oferta devido a inúmeros fatores de enorme relevância na atualidade. O facilidade no processo de informação, preparação, reserva e compra de viagens e alojamento deve-se particularmente à intervenção tecnológica e à progressivamente mais ampla e económica oferta turística. Analisando este fenómeno, é compreensível a crescente procura de short breaks relacionadas com City Breaks, em que é evidente a agregação de atrações turísticas numa área moderadamente diminuta.
O conceito de City Breaks, ou férias na cidade, consiste num turismo principalmente assente num extenso leque de oportunidades e experiências relacionadas com incentivos distintos, desde motivações culturais, históricas e gastrónomicas até tantas outras no âmbito recreativo e comercial que dão a possibilidade ao consumidor de conhecer uma cidade enquanto destino turístico. Este setor tem vindo a destacar-se bastante nos últimos anos visto que se apresenta como o mais popular, ao manifestar-se como preferência em relação a outros tipos de turismo nos mais variados países europeus. As estadias, geralmente, variam entre as duas e seis noites, sendo que os turistas europeus mais entusiastas das City Breaks são principalmente de nacionalidade britânica ou alemã.
O perfil do consumidor associado às City Breaks não tem necessariamente uma ou duas faixas etárias pré-estabelecidas ou, pelo menos, definitivas. Denota-se, no entanto, que geralmente o turista apresenta uma idade superior aos 25 anos. Por um lado, no turismo em que a cultura é a motivação principal (aliado mais à história, arquitetura, arte e ao património cultural) observa-se um consumidor com idades compreendidas entre os 30 e os 55 anos.
Não obstante, quando relacionadas com o turismo de lazer, as City Breaks revelam um turista mais jovem, que se encaixa numa faixa etária entre os 25 e os 45 anos de idade. Constata-se que estamos perante um consumidor de alguma estabilidade financeira e com um nível de educação médio ou alto. Simultaneamente, observa-se que a internet como meio informativo e os voos low-cost têm desempenhado um papel incentivador bastante acentuado e, como tal, algumas das transformações no setor ou alterações no perfil do consumidor podem ser deste modo facilmente entendidas.
O setor das City Breaks divide-se em três diferentes mercados:
City breaks standard: que se apresenta como o principal modelo e que se caracteriza pela procura de atividades variadas. O turista vai procurar preços acessíveis no que diz respeito a acomodação, transporte e alimentação;
City breaks upscale: que, embora partilhe a procura de experiências similares ao mercado standard,  procura uma maior qualidade dos serviços. O turista apresenta um gasto médio por pessoa muitas vezes bastante superior ao standard, visto que pretende instalar-se em hotéis de quatro ou cinco estrelas e procura frequentar espaços mais sofisticados;
City breaks temáticos: em que, contrariamente aos anteriores mercados, é evidente que a viagem parte de uma motivação ou evento específico, nomeadamente relacionado com música, cinema, teatro, desporto, entre outros.
Quando abordamos este setor do turismo, os destinos europeus com a procura mais saliente são, nomeadamente, cidades como a de Londres, Paris, Roma, Amsterdão, Viena, e Barcelona. Estas são definitivamente localidades que dispõem dos recursos necessários para lidar com um grande fluxo turístico e, simultaneamente, satisfazer as necessidades do consumidor.
Atualmente, em Portugal, apenas as cidades de Lisboa e do Porto demonstram alguma possibilidade de suportar uma grande afluência de visitantes com o perfil de City Breaks, ao ponto de competirem com outras grandes cidades europeias. Nao querendo de todo afirmar que outras cidades portuguesas não possuem competências e potencialidade para tal, considero que os requisitos necessários para um mercado tão competitivo exigem um esforço intensivo no que diz respeito ao aproveitamento e desenvolvimento dos recursos existentes em Portugal. Deste modo, ao invés de impossível, o crescente fenómeno das City Breaks constitui o que pode ser uma realidade em ascenção no panorama português, mesmo que o processo se desenvolva gradualmente. Não osbtante, Portugal atravessa momentos de prosperidade no âmbito turístico, com um crescimento bastante acentuado nos últimos anos. Estima-se que este tenha sido de 11,5% em 2016 face ao ano anterior, o que contribuiu para a criação de milhares de novos postos de trabalho e, como tal, um melhoramento significativo do desenvolvimento regional e da economia.
As especificidades geográficas, sociais, histórico-culturais, arquitetónicas, gastronómicas e económicas do país distinguem-no a nível turístico pelos mais variados fatores e, no que diz respeito a City Breaks, as vantagens associadas podem salientar as cidades portuguesas no quadro internacional.
A favorável situação geográfica é evidente: Portugal apresenta um clima mediterrânico bastante aliciante para os turistas. Aqui, salientam-se os britânicos, que representam o maior grupo de estrangeiros a visitar o país muito devido a este fator e, simultaneamente, são os principais admiradores de city breaks da Europa.
Já no âmbito histórico-cultural, arquitetónico e gastronómico, o país têm inúmeros recursos atraentes para este mercado turístico. O reconhecimento por parte da UNESCO é prova disso mesmo, algo que tem vindo a contribuir e pode realçar ainda mais as potencialidades de Portugal no setor. Veja-se, por exemplo, o caso dos centros históricos do Porto, Guimarães e de Évora (embora este último não possua dimensão comparável).
Ao mesmo tempo, o património cultural imaterial também apresenta uma grande preponderância no que toca às singulariedades portuguesas enquanto oferta turística. A declaração do Fado como Património Cultural Imaterial da Humanidade enquadra-se claramente nesta temática devido não só à sua exclusividade cultural como também ao facto de se exprimir em muitas das principais atrações culturais no país e, em especial, em Lisboa. Também na nossa gastronomia são imensos os pratos típicos que se manifestam pela sua peculariedade: desde a francesinha às inúmeras receitas de bacalhau ou desde o pastél de Belém aos ovos-moles, Portugal apresenta uma diversidade gastronómica acentuada, com influências passadas ainda bastante presentes.
Não esquecendo aspetos como a doçaria conventual, uma das grandes vantagens da comida portuguesa baseia-se na dieta mediterrânica (sendo que esta também já foi reconhecida pela UNESCO). Mas também a vertente vitivinícola pode aqui adquirir o seu relevo pois, apesar da sua associação ao turismo rural ou ao enoturismo, trata-se de uma importante representação cultural portuguesa e encontra-se presente em praticamente qualquer estabelecimento de restauração frequentado por aqueles que procurem realizar as suas City Breaks nas cidades portuguesas.
Por fim, deparamo-nos com a questão económica que, obviamente, detém um papel imperativo no que a esta temática diz respeito. O crescimento das City Breaks deve-se em grande parte à sua acessibilidade a nível de preços (viagens, serviços, entre outros) e, realizando uma análise comparativa relativamente a outros destinos concorrentes, é inevitável realçar a vantagem que constitui a escolha de uma cidade portuguesa.
Portugal tem vindo a desenvolver a sua oferta turística de um modo deveras interessante e multifacetado. Não obstante, tendo em conta a prosperidade do turismo no país e o crescimento do mercado das City Breaks, poderão as cidades portuguesas tornar-se novos pólos de atração nesse mesmo âmbito? No meu parecer, é algo bastante exequível, que requer, porém, políticas ponderadas e sustentáveis na exploração dos demais recursos que tão caraterísticos são e que cada vez mais manifestam ser atrativos para qualquer tipo de turista.

Catarina Dordio Pedras

Webgrafia:
https://abta.com/assets/uploads/general/2016_Holiday_Habits_Report.pdf
http://www.turismodeportugal.pt/Portugu%C3%AAs/AreasAtividade/desenvolvimentoeinovacao1/Documents/CityBreaks.pdf
http://arrow.dit.ie/cgi/viewcontent.cgi?article=1027&context=tfschhmtart
http://www.eot.gr/sites/default/files/files_basic_pages/4.7%20City_Breaks_Marketing%20Plan%2C%20PRC%20Group%2C%202007.pdf
http://www.turismodeportugal.pt/Portugu%C3%AAs/turismodeportugal/publicacoes/Documents/City%20Break%202006.pdf
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/static/data/museus_e_monumentos/estatisticas1/ev2016relatoriobreve.pdf
https://www.unescoportugal.mne.pt/pt/temas/proteger-o-nosso-patrimonio-e-promover-a-criatividade/patrimonio-cultural-imaterial-em-portugal
http://www.jornaleconomico.sapo.pt/noticias/turismo-portugal-crescimento-recorde-75444
http://www.jornaldenegocios.pt/empresas/turismo---lazer/detalhe/cinco_graficos_que_mostram_a_evolucao_do_turismo_em_portugal
https://www.unescoportugal.mne.pt/pt/temas/proteger-o-nosso-patrimonio-e-promover-a-criatividade/patrimonio-cultural-imaterial-em-portugal
https://www.unescoportugal.mne.pt/pt/temas/proteger-o-nosso-patrimonio-e-promover-a-criatividade/patrimonio-mundial-em-portugal

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, dICS/UMinho]

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