sábado, abril 08, 2017

A TAP, o norte e os bastidores

          O que se passou com a TAP e o Aeroporto do Porto com a retirada de voos e de rotas, e consequente desinvestimento, gerou uma grande polémica, sobretudo numa empresa que é maioritariamente controlada por capitais estatais. Perdeu o turismo, perdeu o cidadão comum, muitos deles emigrantes, perderam os negócios da região, perdeu o Porto (nomeadamente pela importância que representa tanto no Norte de Portugal como na Península Ibérica). Perante isto, vamos então ver os diferentes pontos de vista das partes envolvidas.
Já não é uma novidade a importância que o turismo tem no país, desde a contribuição para um saldo positivo na Balança Comercial, onde a rúbrica Viagens e Turismo, no ano de 2016, representava um total de 12.681 milhões de euros ou, por exemplo, a criação de novas empresas (que, segundo um estudo da Informa D&B, foram criadas 11 mil empresas, desde alojamento e restauração às de imobiliário e construção).
Em 2016, segundo resultados preliminares, os estabelecimentos hoteleiros registaram 19,1 milhões de hóspedes e 53,5 milhões de dormidas, o que correspondem a aumentos de 9,8% e 9,6%, respetivamente, face ao ano anterior. No norte, o número superou em muito as expetativas que inicialmente foram previstas, sendo que se registou um crescimento de 10,7% face a 2015, atingindo um total de 6,8 milhões de dormidas.
A gestão da TAP, por si só, deve ser questionada, uma vez que na última década houve um aumento das rotas e passageiros e consequentes saldos operacionais positivos. No entanto, esta gestão realizou alguns negócios ruinosos, como, por exemplo, a compra da VarigLog e da VEM, em 2005 (cujo passivo era de 61 milhões de euros) ou da Portugália, em 2007.
O processo de venda da empresa é algo dúbio, no sentido em que o governo anterior, já na reta final do mandato, e em jeito de despachar, vendeu a empresa por uns módicos 10 milhões de euros, sendo que a justificação do governo era que a empresa precisava de uma capitalização e, segundo informações veiculadas, a Europa não permitia essa capitalização pela via estatal, restando apenas a via privada.
 Espanto é quando se descobre que a tal capitalização que a empresa precisava advinha de um empréstimo de curto-prazo da banca nacional, garantido pelo Estado. E podíamos abordar mais temas, como a compra de 17 aviões pela TAP à empresa AZUL. Mas o que realmente interessa é, afinal, quanto é que a TAP ganha/perde com as rotas que tirou do Porto?
Mais do que uma gestão estratégica, não será uma gestão política? Citando o Exmo. Sr. Presidente da Câmara do Porto, "A estratégia da TAP é um insulto à cidade do Porto e uma tentativa de destruir o aeroporto para construir um novo aeroporto, uma nova ponte e uma nova Expo [em Lisboa]. Isto é um problema de regime. Temos sido uns carneiros e temo-nos iludido com promessas sucessivas. O TGV vai acabar por ser Lisboa-Madrid. A terceira ponte [sobre o Tejo] é um grande objetivo do regime", existindo ainda factos como as viagens de longo curso com escala em Lisboa (realizadas pela TAP) que ficam mais baratas a partir de Vigo que do Porto.
Isto é um problema que tem a ver com todos nós (cidadãos), porque a TAP desempenha um papel fundamental não só na economia e no turismo mas, sobretudo, para as comunidades portuguesas (sejam em solo nacional, ou internacional).
Afinal a TAP segue estratégias de interesse público ou privado?

Christophe dos Santos

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, leccionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2016/2017)

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