quarta-feira, abril 12, 2017

A praga das ´tours`

O território português, devido à sua localização, permite que sejam acolhidos nos portos navios de cruzeiro vindos quer do mar mediterrâneo quer do oceano atlântico. De acordo com os dados da revista THE CRUISE INDUSTRY, edição de 2015, o impacto económico direto desta indústria na Europa dos 28 é de 16,6 biliões de euros.
O Porto de Lisboa, situado no estuário do tejo, tem vindo a aumentar o número de escalas de navios de cruzeiro. Só no mês de janeiro, do presente ano, de acordo com o publicado na página do Porto de Lisboa pela sua administração, o número de navios foi de 12, mais 6 que no período homólogo, representando assim um aumento de 50% face ao ano anterior. Pelo que pude observar no mapa de previsão de navios de cruzeiro para o porto de Lisboa, são raros os navios que permanecem mais de 12 horas atracados, pelo que o tempo disponível para explorar as experiências que a cidade pode proporcionar, por parte dos turistas provenientes de navios de cruzeiro a fazer escala, é muito limitado. É neste contexto que surgem as tours, que são, um passeio curto onde se pode conhecer uma parte da cidade de Lisboa.
Estes turistas fazem deslocações, por roteiros predefinidos pela entidade que organiza a tour, deslocando-se de bicicleta, segway, carrinha… Estes tours, por vezes, congestionam o trânsito local devido ao elevado número de turistas que aderem a este serviço.  Este tipo de turistas não adquirem o mesmo conjunto de bens que um turista que pretende pernoitar na cidade, pelo que são um produto menos interessante para a cidade.
Também através da observação dos mapas de previsão de navios de cruzeiro para o porto de Lisboa, é possível verificar um maior número de navios que vêm a operar em turnaround, ou seja, o navio inicia e termina o seu itinerário na mesma cidade. Ainda foi possível ver um pequeno número de navios que operam em interporting, isto é, onde é permitido embarcar e desembarcar passageiros ao longo do itinerário. Os navios que optam por operar nestas condições (turnaround e interporting) são muito mais interessantes para as cidades relativamente aos que fazem escala, pois permitem que os turistas possam realmente conhecer e desfrutar das cidades. Além disso, estes irão necessitar de um número maior de serviços que um turista de escala.
Certamente que poderá ser argumentado que um navio de cruzeiro ao fazer escala numa cidade, facultando que os seus passageiros tenham a possibilidade de a visitar em tour promove o nome da cidade. Um estudo que seria muito interessante de fazer poderia passar por averiguar o número de turistas que optam por visitar a cidade em tour, estudando à posteriori os que voltam para visitar e explorar as experiências da cidade, no seu todo.  
Sem querer descartar a importância que os navios que fazem escala nos portos têm para as economias locais, quer seja pela promoção da localidade ou pelo abastecimento de produtos originários da localidade, acredito que as atividades de turnaround e interporting são muito mais interessantes para as cidades. Isto porque, permitem que o turista possa usufruir de tudo o que a cidade tem para lhe dar, sem que os visitantes interfiram com a vida dos locais, (através de congestionamentos causados pelas tours), mantendo assim o destino original.

Magno Camacho
  
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, leccionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2016/2017)

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