terça-feira, março 21, 2017

Sub-região de Monção e Melgaço: desafios para o futuro da marca Alvarinho

 As questões abordadas no presente artigo irão centrar-se nas problemáticas inerentes ao futuro da marca Alvarinho na sub-região de Monção e Melgaço. Essas problemáticas encontram-se intimamente associadas à produção da casta Alvarinho noutras regiões e à possível perda de exclusividade da Denominação de Origem por parte destes territórios, até 2021. A ideia base centra-se no alargamento da denominação à restante região dos vinhos verdes. A sub-região de Monção e Melgaço goza deste estatuto desde 1989, resultado da consolidação de recursos humanos e naturais, caraterísticas da morfologia e composição química do solo. São estas algumas das particularidades que conferem atributos únicos, reconhecidos a nível nacional e internacional, ao néctar desta sub-região.  
Tal como referi no início, o alargamento da denominação de origem não é a única ameaça externa ao desenvolvimento da marca Alvarinho. A utilização da casta em produções nacionais e internacionais é, segundo a perspetiva de determinados produtores, a principal afronta e desafio que se coloca às empresas. A casta é igualmente utilizada na divulgação da marca em detrimento de valores que, na minha opinião, seriam uma mais-valia na afirmação do Alvarinho produzido em Monção e Melgaço, tal como vamos poder observar de seguida.
Se seguirmos uma linha de pensamento imparcial rapidamente concluímos que as eventuais problemáticas alusivas à casta não deveriam ser alvo de tanta atenção por parte dos produtores. A casta, em si, não possui qualquer tipo de dono ou nacionalidade e, por esta simples razão, não deveria ser tão visada.
Considerando que a divulgação da marca com base na casta não se adequa à afirmação do Alvarinho da sub-região, face a outros Alvarinhos, qual a melhor estratégia a adotar? A meu ver, os concelhos de Monção e Melgaço detêm um conjunto de particularidades distintivas no âmbito da produção de alvarinho, mas não só, que deveriam permitir uma promoção sustentável da marca. Neste sentido, a estratégia comercial deveria cingir-se à comunicação do produto com base no território.
O conceito de território deve ser entendido sob a ótica da sua duplicidade. Território no sentido físico e geográfico (berço do Alvarinho), e território no sentido social, cultural, antropológico e histórico. Ou seja, o berço do Alvarinho conta com um conjunto de singularidades que conferem condições únicas à sua produção. Para além das condições ímpares dos solos e do clima, o vinho alvarinho encontra-se enraizado na cultura das populações de Monção e Melgaço. Desta feita, a promoção do vinho deve basear-se não só nas caraterísticas únicas da sub-região, que resultam em alvarinhos de excelência, como, também, no caráter cultural, histórico, económico, e social intimamente associado ao mesmo.             
Não quero com isto dizer que não se têm tomado medidas no sentido da difusão do Alvarinho com base no território. Destaca-se, por exemplo, a realização de dois eventos no âmbito da sua difusão (Feiras do Alvarinho em Melgaço e Monção), que se têm vindo a afirmar ao longo dos últimos anos como ponto de referência na promoção do vinho alvarinho desta sub-região. Destaca-se ainda a criação do Museu do Alvarinho, onde é possível observar um conjunto de conteúdos que mostram o território como a justificação de um produto (Alvarinho). O museu permite ainda estabelecer um ponto de partida para a prática do Enoturismo, que tem vindo a florescer nos últimos anos, e permite uma aproximação entre consumidores e produtores.
Todavia, ainda existe um conjunto de disposições que podem ser um entrave para a divulgação da marca Alvarinho com base no território. A situação que suscita maiores preocupações prende-se com as problemáticas existentes na cooperação estratégica entre os dois municípios e entre as próprias empresas, resultando em carências a nível estrutural e organizacional que impossibilitam a apresentação do território como uma região vinhateira de excelência. A meu ver, a solução deveria passar pelo fortalecimento de parcerias conjuntas de forma a consolidar uma reputação coletiva, resultando numa modificação estrutural da indústria.
Em suma, para fazer face a estas problemáticas, será importante, na minha perspetiva, apostar na importância do território e de todas as componentes que o caraterizam, projetando a marca Monção e Melgaço e, consequentemente, o seu Alvarinho. A estratégia de produção deve fixar-se no local de origem do vinho, ou seja, na área especifica que o projetou e o deu a conhecer ao mundo. Mais do que lutar contra a produção do vinho Alvarinho noutras zonas, a comunicação deve articular meios orientados para a fixação da importância deste território na produção de vinhos de excelência.      

Marco Pacheco

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, da ICS/UMinho]

Sem comentários: