quinta-feira, maio 01, 2014

Os Impactos Positivos da Copa do Mundo de 2014 para o Turismo no Brasil

Muito se fala no Brasil hoje sobre os verdadeiros benefícios que a Copa do Mundo pode trazer para o país. Na verdade, já há pelo menos 2 anos que há uma grande inquietação entre muitos brasileiros sobre a viabilidade econômica do evento e as perspetivas futuras que possa trazer.
Afirma-se que já foram gastos 30 mil milhões de reais. Na verdade, o valor é menor. Mas a questão relevante é que, mesmo que fossem 30 bilhões de reais, o que isso realmente representa?
Quem acompanha a dinâmica da macroeconomia do Brasil sabe que a arrecadação de impostos pelo governo federal brasileiro no ano de 2013 foi de mais de um trilhão de reais, ou seja, mais de mil bilhões de reais. Isso somente em 2013. Levando-se em conta que o governo federal arrecadou também mais de 1 trilhão em 2012, o total dos dois anos fiscais corresponde a 2 trilhões. Como as obras para a Copa foram iniciadas em 2011, soma-se ainda outro 1 trilhão, resultando no período um total de 3 trilhões de reais. Os gastos com o evento desportivo não chegam a 1% do valor arrecadado com impostos somente.
As críticas principais referem-se ao que o país deixa de investir na Educação, por exemplo, ao desviar esse montante para os gastos públicos com a Copa. Mas a verdade é que em 2011 e 2013, somente para o Fundo de Desenvolvimento de Educação Básica, o governo destinou 92 mil milhões de reais. Ou seja, somente em uma iniciativa do Ministério da Educação investiu-se mais de três vezes o dito valor gasto com o evento da FIFA. 
Contudo, o que mais impressiona, e que boa parte da população desconhece, é que segundo o Portal da Transparência da Copa, site elaborado pelo governo federal para monitorar os gastos antecipados e concretizados com o evento, não foi gasto um centavo sequer do Orçamento da União com a construção e reforma das arenas desportivas, alvo principal dos queixosos, gastos esses que teriam consumido 8 mil milhões do erário público. Entretanto, vale salientar que muitas das despesas com os estádios foram viabilizadas através de parcerias público-privadas entre governos estaduais e construtoras, formando consórcios que por contrato vão administrar as arenas de futebol pelas próximas décadas. Fora alguns estádios construídos que possam ser questionados em termos e viabilidade, as reformas efetuadas na maior parte deles foi bem mais do que justificada. Muitos dos estádios de propriedade dos governos municipais e estaduais já estavam com suas estruturas comprometidas, pondo em risco inclusive a segurança dos adeptos.
Além disso, fora os gastos diretos com os estádios, os investimentos são em sua maioria relacionados à infraestrutura das cidades-sedes da Copa. São gastos mais relacionados à mobilidade urbana, aeroportos, estruturas portuárias, estradas, túneis, pontes, viadutos, corredores de autocarros e outras obras. São investimentos que devem trazer benefícios para as cidades anos após o término do evento. Foi nesse tipo de investimento que o governo brasileiro colocou verbas do Orçamento.
Um outro retorno significativo é o benefício para o turismo. Segundo estimativas da Embratur, empresa pública gestora do turismo, cerca de 600 mil turistas estrangeiros são esperados durante a Copa do Mundo, os quais devem deixar nas cidades-sede e outras atrações turísticas algo em torno de 7 mil milhões de reais. Sem contar com benefícios indiretos, com turistas conhecendo de perto as belezas naturais do país e divulgando-as no exterior.
No exemplo da África do Sul, país-sede da Copa de 2010, foi observado um aumento de 15% no número de turistas estrangeiros em relação a 2009, com uma tendência de crescimento que se manteve nos anos seguintes. Em 2011, por exemplo, o número de turistas estrangeiros que visitaram a África do Sul cresceu em 3,3% em relação a 2010.
Como o número de turistas que visitam o Brasil todos os anos é considerado muito baixo, espera-se que os benefícios para o turismo sejam multiplicados.
Resta-nos acompanhar se o efeito positivo no longo prazo da Copa do Mundo se confirmará.

Fabio Montez

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo” do curso de Mestrado em Economia Social, da EEG/UMinho]

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