domingo, novembro 03, 2013

O teatro, elemento de cooperação territorial

Nos últimos anos temos assistido a um maior intercâmbio entre companhias de teatro, sejam elas profissionais ou amadoras, entre Portugal e a região Espanhola da Galiza, situação esta protagonizada através da organização de mostras e festivais de teatro, iniciativas de co-produção, encontros institucionais e alguns espectáculos, promovidos individualmente por instituições de ambos os lados da fronteira.
Neste sentido, o intercâmbio cultural, e neste caso específico, ao nível do teatro, visa promover a multiculturalidade das regiões envolvidas, portuguesa e galega, bem como dinamizar as ofertas das mesmas. Devemos, então, reflectir sobre este tema, a sua importância e relevância para os diferentes povos e qual o seu impacto no dia-a-dia das pessoas.
Numa situação mais específica, como a da cidade de Braga e se esta limitar à sua oferta cultural ao nível do teatro com base apenas nas suas companhias teatrais residentes, quer elas sejam profissionais ou amadoras, estaremos também a limitar o acesso da população à cultura, ficando esta “refém” da disponibilidade e da capacidade de desenvolvimento de actividades da sua própria oferta. Este intercâmbio teatral permite, entre outros aspectos, ultrapassar barreiras culturais, a promoção cultural, aumentar a oferta de espectáculos, uma gestão eficiente e com maior rentabilidade de recursos instalados, sendo este último ponto essencial e assumindo nesta fase de dificuldades económicas extrema importância.
Para percebermos a importância deste último ponto vejamos o caso do Teatro Circo de Braga, que mensalmente é obrigado a manter determinados recursos para “oferecer” os seus espectáculos, independentemente do número dos mesmos, o que pode representar um défice no aproveitamento dos recursos. Assim, se nesse mesmo espaço temporal se realizassem o maior número de espectáculos possível, os recursos necessários à sua realização teriam um melhor aproveitamento, não representando um incremento substancial das despesas, o que confirma que uma maior oferta não implica necessariamente uma duplicação dos custos.
Assim, quanto maior for a capacidade organizativa e o intercâmbio, mais beneficiadas serão as companhias ou associações teatrais e, acima de tudo, será um enorme benefício para as comunidades abrangidas por estas iniciativas, quer ao nível da oferta cultural, quer através de um incremento económico no turismo em toda a sua abrangência (hotéis, restaurantes, museus, transportes, etc), com impacto directo no aumento dos indicadores de qualidade de vida das populações beneficiadas por estas iniciativas.
Deste modo, quanto maior for o investimento nesta partilha de experiências e nesta mobilização dos agentes culturais e, aqui, concretamente no universo teatral, mais benefícios e mais estímulos terão os seus intervenientes directos e a população, permitindo uma optimização dos custos, rubrica esta que nos últimos anos tem sofrido elevados cortes por parte das entidades locais e nacionais, não se prevendo num futuro próximo a inversão da situação.
Devemos então, cada vez mais, assegurar este tipo de actividades de intercâmbio com iniciativas devidamente organizadas, tentar o envolvimento concertado de todas as instituições com responsabilidade neste domínio, e “olhar” para a cultura promovida pelo teatro como um investimento capaz de promover culturas, promover a qualidade de vida das populações, promover o desenvolvimento socioeconómico e a cooperação territorial.

 José Joaquim Gomes Faria

(texto de opinião produzido no âmbito da uc. Bases Estruturais da Euro-região Galiza-Norte de Portugal, do Mestrado em Politicas Comunitárias e Cooperação Territorial da EEG e do ICS/UMinho)

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