domingo, abril 15, 2012

Impacto do Rally de Portugal na economia e no desenvolvimento local?

Este é um tema que surgiu em conversa com os meus amigos no Fafe World Rally Sprint, uma semana antes do início do Vodafone Rally de Portugal. Será que o Rally tem impacto na economia e no desenvolvimento regional?
O impulso final para escrever sobre este assunto foram as declarações na televisão do Presidente do ACP, Carlos Barbosa, que manifesta um grande interesse em que o Rally de Portugal retorne ao Norte, mas que no próximo ano era manifestamente difícil devido à ‘falta de tempo’. Carlos Barbosa realça o facto de que desde 2007, e de uma consistente, o Vodafone Rally de Portugal é o acontecimento desportivo com maior retorno económico desde o Euro 2004. Mesmo tendo diminuído o orçamento para 3,5 milhões de euros, a expectativa é de que a prova tenha um retorno de 95 milhões de euros em 2012.
No âmbito do Protocolo Especifico de Cooperação entre o ACP e o Centro Internacional de Investigação em Território e Turismo da Universidade do Algarve, foi realizado em 2010 um estudo, que contou com a coordenação de Fernando Perna, com base numa amostra de 908 pessoas, sendo 228 residentes do Algarve e Baixo Alentejo e 680 não residentes no Algarve e Baixo Alentejo. Nos 3 dias de trabalho de campo, as entrevistas foram feitas em seis zonas de espetáculo, Santa Clara, Silves, Almodôver, São Brás de Alportel, Loulé e Estádio do Algarve. Retirei desse estudo os dados que, na minha perspetiva, eram relevantes para as minhas questões. Dos adeptos não residentes no Algarve e Baixo Alentejo, 53,65% eram portugueses, sendo 35,5% do Norte, 31,1% do Centro, 23% de Lisboa e 6,75% do Alentejo. O segundo grupo com maior número de aficionados era espanhol, com 34,6%, sendo 37,7% da Andaluzia, 18% da Galícia, 9,2% da Estremadura e 6,6% da Catalunha. O terceiro grupo mais significativo era o dos Ingleses, com 3,3%.
Os impactos económicos diretos estimados neste estudo relativos à despesa total associada ao Rally de Portugal 2010, no Algarve e Baixo Alentejo, foram, no caso dos residentes, de 1.318.403 euros, e dos não residentes, de 45.505.705 euros. Os gastos das equipas intervenientes foram 1.819.795 euros, o Road Show no Porto (gastos dos espectadores) situaram-se em 1.523.250, num total de 50.167.153 euros. Valor equivalente em publicidade proveniente das transmissões da comunicação social, Imprensa e TV nacional, 7.864.115 euros, TV internacional 27.167.804 euros, num total de 35.031.919.
No meu ponto de vista, talvez exista um enviusamento na amostra, nela só estão representados cerca de 25% dos residentes, o que acho muito improvável. Se o Rally se desenrolasse no Norte, a percentagem de residentes a assistir seria muito superior. São considerados residentes aqueles que fazem uma viagem de uma a duas horas e voltam para casa e saem no dia seguinte para mais uma etapa ou vão de mota e saltam de classificativa para classificativa mal passam as equipas mais importantes e ainda outros que dormem em tendas, sacos cama, ao relento e dentro do carro, enquanto aguardam pela passagem dos concorrentes. Neste grupo também estão inseridos muitos espanhóis, porque só andado de ‘casa às costas’ é que se consegue acompanhar o rali o mais possível, sendo o principal gasto com o combustível a alimentação e bebidas, que muitas vezes vêm de casa ou são compradas num supermercado.
Embora não tenha acesso à ficha técnica deste estudo, é possível que exista um enviesamento da amostra, provocado por um elevado número de entrevistas feitas no Estádio do Algarve, que alteraria por completo o peso das despesas em cada item, como alimentação e bebidas, alojamento, transportes, Merchandising, animação e compras.
O valor ‘médio’ apontado no estudo, para os não residentes, é de cem euros por dia, que acho exagerado. Assim como os valores estimados como ganhos de publicidade devido às transmissões da televisão e imprensa nacional e estrangeira, embora o retorno publicitário para os principais patrocinadores como a Vodafone esta sempre assegurado.
No meu ponto de vista, o Rally tem um baixo impacto na economia local, embora exista um elevado número de assistentes. Deveria ser feito um estudo junto dos hoteleiros para fazer uma estimativa mais aproximada do número de camas ocupadas relacionadas com o Rally. O retorno em termos turísticos a longo prazo é algo que não se sentiu nos locais anteriormente usados no Norte e Centro de Portugal nas provas do Rally de Portugal. A publicidade proveniente do visionamento na televisão em Portugal e no estrangeiro, associada a paisagem característica destes locais, a sua gastronomia, o seu artesanato e outras potencialidades endógenas, seria uma forma de desenvolver a economia da região em que se desenrola o Rally. Não nos devemos centrar apenas na prova e no aspeto desportivo desta, porque só tem uma duração de três dias, mas sim nas potencialidades do território em que esta se desenrola.

Paulo Azevedo

Bibliografia (Sítios):

(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho)

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