sexta-feira, abril 20, 2012

Falta de planeamento do território: aumento da temperatura no meio urbano

O urbanismo português caracteriza-se, ao longo dos tempos, essencialmente por duas vertentes, a vertente vernácula e a vertente erudita. A vertente vernácula possuiu como característica fundamental a ligação com o território, que passa pela escolha de localizações com características específicas. A vertente erudita passa pela utilização de um sistema ortogonal (características de regularidade).
O actual processo de urbanização, ocorrido por acção antrópica, substituindo o ecossistema natural por estruturas urbanas tem como resultado impactes ambientais a vários níveis, principalmente no que concerne ao clima urbano e consequentemente o desconforto térmico e podendo mesmo causar problemas a nível da saúde.
Estudos efectuados por diversos autores (Oke e Hannell, 1970; Mendonça, 1994; Monteiro 1997; Pitton, 1997; Viana e Amorim, 2008; Amorim, 2005 e 2010; Lima, 2011) demonstram que o fenómeno das ilhas de calor (fenómeno climático do aumento da temperatura que ocorre em centros urbanos, devido à elevada capacidade de absorção das superfícies urbanas) não ocorre apenas nas grandes metrópoles, mas também nas cidades de pequenas e médias dimensões. 
Esta situação deve-se à falta de planeamento dos locais que são alterados, que originam diversos problemas, como, por exemplo, a falta de vegetação ao longo do edificado que prejudica o albedo (quanto maior a vegetação, maior é o poder reflector), logo existe uma maior absorção de calor. A construção de estradas, bem como o desvio de águas por bueiros e galerias e muitas das vezes construções em locais inapropriados, não tendo em conta os cuidados mínimos quanto ao relevo, ao declive e aos locais de nascentes de água, são outros dos muitos problemas. Tal como Amorim (2000) defende, a falta de vegetação nas áreas verdes e nos locais destinados ao lazer também interfere negativamente na qualidade de ambiental dos espaços urbanos. Surge ainda a utilização de materiais na construção, que são inadequados para a região.
Para o combate ao calor que advém do exterior são utilizados refrigeradores, ar-condicionado, entre outros, o que leva a um aumento do consumo de energia, logo a problemática ambiental é inseparável da problemática económica e social.
Alguns locais existentes nas cidades são extremamente inadequados no que concerne ao conforto térmico e torna-se fundamental tomar medidas para que estas situações de temperaturas elevadas sejam amenizadas.
Para melhorar o ambiente térmico urbano estas medidas poderiam passar, por exemplo, por:
- aumento de áreas verdes nas cidades, com a plantação de árvores;
- incremento de corredores verdes;
- utilização de materiais de construção adequados;
- o incentivo a utilização de transportes públicos, o que levaria a uma diminuição da emissão de poluentes;
- Ter em conta a construção em altura, pois quanto mais elevados os edifícios e mais próximos, maior é barreira para a circulação do vento.
O processo de urbanização tem um papel fundamental para a explicação do aumento da temperatura verificado nas cidades, pois a produção do clima urbano é o resultado da radiação recebida e da radiação reflectida pelos locais construídos. Torna-se fulcral pensar e repensar o planeamento das nossas cidades. O urbanismo bioclimático surge como uma resposta a esta necessidade de mudança.

Cláudia Teles

(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho)

Sem comentários: