sábado, abril 14, 2012

Ex-SCUT A22 e a recessão do Algarve Internacional

O Turismo constitui o motor económico do Algarve, fruto da conjugação de uma série de factores climáticos, territoriais e paisagísticos. Afluem ao Sul de Portugal todos os anos milhares de turistas de nacionalidades distintas mas sobretudo ingleses, espanhóis, alemães e holandeses. A Região assumiu nos últimos anos valores de crescimento populacional e qualidade de vida comparáveis à Grande Lisboa e ao Grande Porto mas que ameaçam estagnar graças à barreira criada pelo Governo português: as portagens na Ex-SCUT A22, que liga Vila Real de Santo António a Lagos. A Via do Infante foi até Dezembro de 2011 um acesso privilegiado para turistas nacionais e internacionais pelas suas excelentes condições, onde se incluía a gratuidade de utilização. A autoestrada tem perante a economia do Algarve um papel crucial dado que actua como uma espécie de convite de entrada naquele que pode ser apelidado como o “El Dorado” português, dada a facilidade e o conforto que proporciona ao utente na entrada numa das áreas mais cobiçadas da Península Ibérica.
 É perante este cenário positivo que em Dezembro de 2011 o Governo Português decide acabar com a SCUT A22, passando a cobrar a utilização da via de acesso àquela que é uma das regiões com maior peso na economia nacional. Passados três meses, já se podem tirar as ilações quanto às medidas tomadas na via: em comparação com o primeiro trimestre de 2011, a A22 perdeu cerca de 56,3% do tráfego (Público, 2012). Ou seja, turistas internacionais que gastaram durante anos o seu dinheiro em território português têm agora de pagar um imposto de entrada se o quiserem continuar a fazer. Faz sentido privar turistas de entrar gratuitamente no Algarve quando a competitividade territorial entre regiões nunca se fez sentir de forma tão forte e necessária? O turista vai obviamente optar por zonas do mediterrâneo espanhol onde as acessibilidades são excelentes, ao invés de um Algarve “fechado” pela Ex-SCUT. Mas como se não bastasse de políticas mal empregues, o sistema de pagamento das portagens ainda apresenta deficiências funcionais e de extrema complexidade, resultando em filas intermináveis de viaturas à espera de efectuar o pagamento que deixam qualquer turista com a cabeça em água e arrependidos de escolher o Algarve como destino.
Perante este cenário de pura restrição e selecção de turistas,  tem diminuído a procura do Algarve como destino, os negócios de hotelaria entram em recessão assim como todo o comércio regional, e o desemprego dispara. O turista internacional que paga portagem leva más impressões da região para o seu país, com promessas de não regressar, situação verificada na Páscoa de 2012, com o caos instalado na portagem da Ex-SCUT na ponte do Guadiana.
É imcompreensível como se mantém uma medida que em apenas três meses causou mais estragos do que convenientes. Vale realmente a pena cobrar ao turista por gastar dinheiro, considerado nestes tempos fundamental em Portugal? O Algarve está a enfraquecer e só quem vive a cultura algarvia parece tomar medidas para tentar contrariar a situação. Exemplo disso é a campanha “Há um Algarve sem Portagens”, em Espanha, onde se ensina aos turistas rotas alternativas às portagens da Via do Infante, que tanto os confundem. Muitas são as vozes que pedem o fim do sistema de portagens na A22, numa tentativa de voltar aos tempos em que o Algarve era um destino muito procurado pelos turistas estrangeiros e com eles o seu capital se tornava essencial e de extrema importância na economia regional mas também nacional. 

André Filipe Castro Pereira

(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho) 

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