sexta-feira, abril 06, 2012

Espaço Rural ou Recreação? Será a atual organização turística a solução para uma economia regional sustentável?

A paisagem do interior do país assume-se como um ponto estrutural da personalidade da nação portuguesa. Através desta, chegam-nos perceções resultantes da ligação da sociedade herdada e da que se aproxima. É difícil imaginar aldeias sem pessoas, em que a sua história morreu juntamente com os que partiram. No entanto, é uma realidade predestinada às áreas rurais em que perduram as baixas densidades populacionais. Atualmente, em Portugal Continental, cerca de 50% do território português pertence a áreas rurais (Baptista, 2006, citado por Figueiredo, 2011). Nestes locais, a personalidade do lugar reúne múltiplas identidades e histórias, descritas na geografia da malha habitacional. A casa rural descrita por Orlando Ribeiro (1989), imponente, distinta, lar de família e ao mesmo tempo utensílio de exploração agrícola, deixa de o ser, ou se o é, apenas o é na imagem recriada e reconstruída aquando da reconversão para locais de abrigo turístico.
          O mundo rural “já não é rural, nem mundo” (Portela, 2003, citado por Figueiredo, 2011). A ruralidade vai cada vez mais distante. Já não predomina a agricultura individual. A que prevalece é praticada em latifúndios. As vocações do mundo rural foram-se alterando ou readaptando à necessidade de atração e de captação de dinheiro e pessoas, transformando aldeias ou vilas de produção agrícola em lugares de consumo de atividades de turismo, recreio e reprodução de alimentos típicos e tradicionais.  
        A tentativa da dinamização do turismo é crescente em espaços rurais, no entanto esta continua a não atrair número significativo de turistas de modo a garantir o sustento a longo prazo. O turista procura constantemente novas experiências, novas vivências. Esta instabilidade da procura é imutável, o que requer por parte das empresas que emitem a oferta um dinamismo e uma constante atualização do produto que oferecem.
Segundo Carminda Cavaco (2005), o “ (…) modelo do ciclo de vida dos lugares turísticos (fases de descoberta, desenvolvimento, consolidação, estagnação, declínio) (…)” (p. 423) é inevitável. Em parte poderá dizer-se que esta fatalidade é inevitável para todos aqueles que não conseguem acompanhar e evolução do mercado. O turista atualmente é exigente, procura nos espaços rurais todo o conforto que tem no mundo urbano, mas ao mesmo tempo um “mundo que seja puro, higiénico, inodoro, saudável, pós-moderno e, ao mesmo tempo, autêntico, genuíno, verdadeiro, tradicional e típico” (Figueiredo, 2011). A conciliação destas características nem sempre é um trabalho fácil, e as empresas ou entidades públicas que se dedicam à captação da atração muitas vezes fazem-no sozinhas.
No meu ponto de vista, não pode existir evolução do espaço rural sem existir toda uma rede de interligação entre a comunidade e os empreendimentos construídos, ou até mesmo uma estrutura bem montada de ofertas turísticas ligadas entre si. A partir do momento que uma aldeia, vila ou até mesmo cidade apresenta interesse em ser um destino turístico, potencializando os seus atributos, não pode apenas apontar no seu projeto o alvo da visita. Têm de ser tidas em conta as infraestruturas que apoiaram a atração turística.
            O sucesso de um projeto turístico – numa escala, local, regional ou nacional – tem de ter em conta que o turismo funciona como uma empresa compartilhada por vários subsectores. Cada um dos subsectores desenvolve uma vertente do turismo, estrutura e consolida roteiros e destinos, cria projetos de interesse temático – podendo dar origem a nichos do mercado. Após a estruturação da identidade dos locais, a etapa seguinte é lançar uma marca e com a ajuda do marketing atrai o turista e contribui para o estímulo competitivo de crescimento de todos os subsectores. Todo este encadeamento tem sempre de ter em conta a ligação com o autóctone, com as festas, as atividades tradicionais, nunca esquecendo o caráter produtivo das áreas rurais, evitando a situação de representação do espaço rural como sendo um cenário ou uma paisagem.
Nunca devemos esquecer que “não existe um só tipo de procura, um só tipo de consumo nem um só tipo de representação sobre as áreas rurais” (Larrére, 1990, citado por Figueiredo, 2003), existem sim, várias formas de progresso, devendo sempre existir o estímulo por parte do estado para a dinamização da agricultura de forma a tornar tal como no passado um modo de sustento das famílias. O turismo deve ser visto como um meio e não uma via de alcançar a sustentabilidade das áreas rurais. 

Sara Catarina Silva

(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho)

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