sexta-feira, abril 13, 2012

Agricultura. Uma oportunidade de desenvolvimento nacional: o caso da empresa Agro-Mancelos

Num momento em que a agricultura portuguesa perdeu, e continua a perder importância como actividade económica nas áreas rurais, é imprescindível compreender que é possível transforma-la na principal actividade económica fomentadora/impulsionadora do desenvolvimento desses espaços. No entanto, importa encara-la como uma actividade económica com interesse, contrariamente ao que tem acontecido nas últimas décadas.
Face à crise que o país atravessa atualmente é notório verificar-se um aumento dos preços dos bens alimentares de primeira necessidade, o que leva ao levantamento de uma questão primordial, que vai de encontro ao porquê de o país ter desistido do seu sector primário, no momento em que o preço dos produtos alimentares aumenta. Pelo facto de Portugal ser um país competitivo neste sector, a importação de produtos alimentares não é justificável, dado que os mesmos poderão ser produzidos cá e em nenhum momento da nossa história foi tão relevante consumir produtos portugueses como agora, até pela sua qualidade.
Diante de um grave problema económico-financeiro que o país atravessa, é indispensável mais do que nunca apostar numa agricultura que seja capaz de revitalizar a economia nacional para o crescimento do produto interno bruto e (re)equilibrar a balança comercial, já que essa apresenta um elevado défice. Assim é necessário diminuir a nossa dependência ao exterior, de maneira a diminuir o nosso endividamento.
Importa ter presente o exemplo dos países desenvolvidos onde prevalece o excesso de produção agrícola, sendo esta uma das condições que lhes permitiu tornarem-se ricos, pelo facto de serem auto-suficientes na produção agrícola.
Mais do que nunca é necessário adotar uma nova atitude no que se refere à agricultura, é crucial romper com ideologias criadas ao longo dos últimos anos e apostar numa ‘nova economia’ baseada fortemente nesse sector, utilizando-a como uma grande fonte de rendimento. Para ser possível a sua concretização, é fundamental respeitar os agricultores, pelo grande contributo que dão a uma actividade socialmente sustentável e de grande importância económica para o país. Por isso é essencial recompensar quem trabalha na agricultura, através de decisões públicas que incentivem a sua actividade e não decisões políticas, como atualmente se verifica, que têm levado ao abandono dos territórios rurais. Assistiu-se a progressiva passagem da agricultura para segundo plano, em parte por responsabilidade de decisões políticas, que ao longo do tempo foram pensadas e executadas de forma a reforçar-se as assimetrias constatadas entre o litoral e o interior.
No entanto, existem diversos casos que tentam reverter esta tendência e na sua maioria correspondem a esforços locais e individuais que tentam fazer face à desvalorização dos governos e faltas de apoios. A título de exemplo, a Agro-Macelos é uma exploração leiteira familiar, situada na região entre Douro e Minho, distrito do Porto, concelho de Amarante, freguesia de Mancelos, que surgiu e tem crescido através do esforço de empreendedorismo local.
Esta iniciativa privada tem sido pioneira no seu percurso, nomeadamente no que diz respeito à inovação com o recurso às tecnologias para explorações leiteiras: ordenha mecânica. Têm sido variadas as notícias publicadas sobre este caso de sucesso, pois têm conseguido aumentar a produção ano após ano, que se deve à constante inovação e à aposta de formação dos seus proprietários. Toda a produção tem sido encaminhada para a AGROS, com uma produção anual dos 700 mil litros de leite. Assim, verifica-se que são sobretudo as apostas nas tecnologias, conjugando-as com as práticas agrícolas que fazem a diferença face às dificuldades do sector. No caso desta empresa, destacam-se também por serem os únicos a exportar embriões de gado; destaca-se ainda a participação em concursos pecuários nacionais e internacionais com a obtenção de resultados positivos.
Por fim, na realidade, os contornos do rural (já) não coincidem com a agricultura, ou seja, aquele país do ‘milho, centeio e trigo’ está ultrapassado. Hoje verifica-se a relevância de outros sectores e fontes de rendimento. No entanto, cabe-nos adotar uma nova atitude e acreditar neste sector como uma nova oportunidade de futuro, da qual a Agro-Mancelos é exemplo, tendo em vista o desenvolvimento do país.

Flávia Sá

(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho) 

Sem comentários: