terça-feira, janeiro 03, 2012

Recursos humanos e desenvolvimento regional: a mobilidade dos recursos humanos

Há vários aspectos que são considerados fundamentais para o desenvolvimento socioeconómico, conforme os autores que sejam consultados; no entanto, existe um ponto em comum: a formação de recursos humanos é cada vez mais considerada fundamental para a “modernização humana, cultural, económica e social”.
Pela teoria do capital humano, é possível estabelecer o sistema escolar – mais especificamente, o ensino superior – como o principal formador de recursos humanos, pois as suas funções compreendem a “socialização das gerações mais jovens e a sua capacitação profissional”. Vários autores consideram a formação contínua ao longo da vida como a base da “evolução da sociedade e construção de novos processos de desenvolvimento”, na medida em que mão-de-obra qualificada constitui o motor da expansão do PNB de um país, para além de que pressupõe-se que um trabalhador recebe tanto mais quantos mais anos de escolaridade possuir, do mesmo modo que a sua produtividade aumenta com a sua escolarização. No entanto, apesar de ser indispensável, a educação não é um factor determinante no desenvolvimento/evolução da economia.
Portugal é um país marcado por grandes assimetrias e desequilíbrios regionais, nomeadamente entre as regiões rurais e urbanas e entre o litoral e o interior. De modo a resolver este problema relacionado com a criação de recursos humanos, procedeu-se ao alargamento da rede de ensino superior universitário e politécnico (tanto público como privado) a todas as regiões do país, que se deu ao longo do último quartel do século XX. Esta expansão tem ajudado ao desenvolvimento regional, com a orientação dos cursos de modo a irem de encontro às necessidades produtivas locais, o que contribui para a mobilização dos recursos endógenos das regiões, através da fixação dos diplomados na sua área de residência ou na área onde se localiza o estabelecimento de ensino, caso não sejam lá residentes. Destaca-se a importância do ensino superior politécnico, que tem como objectivo a formação de técnicos de maneira a dar resposta às necessidades das actividades socioeconómicas e a potenciar o desenvolvimento do país; assim, foi definido na legislação que os estabelecimentos de ensino superior politécnico devem “colaborar directamente no desenvolvimento cultural das regiões onde estão inseridos” e “prestar serviços à comunidade, como forma de contribuição para a resolução de problemas, sobretudo de carácter regional, nelas existentes”.
No entanto, estudos efectuados com o intuito de analisar a mobilidade dos recursos humanos em Portugal mostram que a distribuição dos diplomados em Portugal não é homogénea, tendo tendência a acompanhar os fenómenos de “bipolarização e litoralização”, o que equivale a afirmar que a mobilidade dos recursos humanos acompanha os movimentos da população para os grandes centros urbanos (Lisboa e Porto) e para as cidades do litoral. A explicação para este facto reside no facto de as áreas metropolitanas continuarem a possuir um maior leque de oportunidades de emprego, e os centros universitários tradicionais exercerem maior atracção do que os novos estabelecimentos. Assim, os desequilíbrios espaciais são agravados, e não resolvidos. Por outro lado, considerando o exemplo da Universidade de Aveiro, que é o distrito que fixa maior número de diplomados, atraindo tanto residentes em Aveiro como alunos de outras localidades do país, estando à frente do Porto, Lisboa (o que não retira importância a estas duas áreas metropolitanas, que continuam a obter ganhos de diplomados) e Coimbra, verifica-se que a localização do estabelecimento de ensino tem grande influência na fixação dos diplomados.
Assim, é possível concluir que a criação de universidades e institutos politécnicos por si só não chega para conseguir o desenvolvimento de determinadas regiões, pois estas continuam sem outros pontos atractivos, pelo que os indivíduos não se sentem compelidos a ingressarem nos estabelecimentos lá localizados, preferindo os que se localizam em cidades mais desenvolvidas, o que piora as assimetrias espaciais e sociais. A única forma de o ensino superior contribuir para a mobilização de recursos humanos e consequente desenvolvimento regional equilibrado é enquadrá-lo num “processo global e coerente de planeamento social”.

Inês Macedo


[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Sem comentários: