sexta-feira, janeiro 13, 2012

Feiras Novas: Uma Tradição

Ponte de Lima, sedutora Vila, pérola do Minho, terra de Diogo Bernardes e António Feijó, que no lendário Lima e na Ribeira de encantos “terra mais linda não encontrei”. Uma terra com História, com Tradições, com Memória, feita de acontecimentos marcantes como as habituais “FEIRAS NOVAS”, conhecidas como a grande romaria minhota que tem lugar no mês de Setembro, já na azáfama outonal das colheitas de S. Miguel. É um dos maiores e mais genuínos arraiais populares do Alto Minho, e ao longo de três dias e três noites, a festa, a feira, a romaria e a paródia do típico e garrido minhoto genuíno, com arcos multicoloridos projectando sonhos no encanto da explosão do fogo-de-artifício atraem milhares de pessoas para a diversão, para o comércio e para a folia. Mantém-se fiel no essencial à autenticidade das tradições e dos costumes limianos. É com esta grande festa popular que se fecha o ciclo festivo do Verão minhoto, tão intenso e expressivo.
Tem uma dupla dimensão, a de festa profana e a de festa religiosa e já contam com mais de 180 anos, uma vez que o seu início remonta a 5 de Maio de 1826, com a provisão régia de D. Pedro IV. Também chamadas de Festas de Nossa Senhora das Dores, vulgarizou-se a designação popular de Feiras Novas, para as distinguir das feiras quinzenais, às segundas, as mais antigas de Portugal, já referenciadas no foral da rainha D. Teresa, concedido a Ponte de Lima em 4 de Março de 1125.
Desde os primórdios, o programa das festas é extenso e variado e a própria sucessão dos cartazes anuais do evento espelha bem a evolução de uma festa e de gostos dominantes, com algumas constantes ao nível dos divertimentos de carácter popular, consequentemente, as festas de hoje não são, nem podiam ser, as festas de outrora, porém a tudo resistiram as Feiras Novas, às revoluções políticas e mudanças de regime, às transformações culturais e religiosas, às crises económicas e mudanças de hábitos. A cultura de hoje, os novos meios técnicos, o progresso das comunicações, a educação e os gostos das pessoas, tudo foi mudando com o tempo e tudo concorreu para que as grandiosas festas se fossem naturalmente adaptando à cultura de cada época. Assim, o que é “postiço” desaparece, já o que se mostra genuíno perdura, além de que toda a evolução sentida tem de ser vista como sinal de vitalidade, pois no inexorável desenvolvimento turístico não há retrocesso ou estagnação. Ou seja, congregando gerações distintas, as festas de hoje espelham novos tempos, é certo, mas sem terem perdido a alma ou o cunho tipicamente popular que as caracterizam.
Quem alguma vez conheceu e viveu as animadas Feiras Novas da hospitaleira vila de Ponte de Lima, não pode, certamente, apagar da lembrança a intensidade dessas calorosas recordações. Ontem como hoje, continua a revelar-se uma exemplar e cativante festa minhota, com características e atributos bem como o carácter das suas gentes que a tornam verdadeiramente única.
Os festejos estendem-se lateralmente ao rio, desde a alameda e capela de S. João à capela da Senhora da Guia, ao fundo da Avenida dos Plátanos, tendo como grandes centros a Praça de Camões e o extenso areal. Entre as representações mais vivas que se guardam destas memoráveis e alegres festas populares, destaca-se a enorme afluência de povo, em intermináveis ondas de gente, que descem das mais longínquas aldeias até à vila inundando ruas e avenidas, becos e praças; as coloridas iluminações das suas avenidas; o contagiante som das bandas filarmónicas, das concertinas e dos cavaquinhos bem como o ritmo e a graça das danças e das desgarradas; as rusgas e os cantares ao desafio; a sonoridade dos ranchos com os seus estridentes trajes folclóricos desfilando alegremente por qualquer canto da vila; a encantatória variedade das diversões espalhadas pelas ruas e pelo areal, seduzindo miúdos e graúdos; os ritmados desfiles dos Zés P’reiras, gigantones e cabeçudos, ecoando os ares e arrebatando crianças e adultos, ao som de bombos e de gaitas galegas; o variado comércio espelhado pelas ruas; a feira do gado dos lavradores com a presença dos cavalos e garranos; concursos e prémios pecuários; as enérgicas e tradicionais touradas; a vivacidade do Cortejo Etnográfico e Artesanal, interessante desfile das gentes da Ribeira Lima, numa demonstração das suas inúmeras actividades e no qual se farão representar todas as freguesias do concelho; a lição viva do longo e elegante Cortejo Histórico alusivo à História de Ponte de Lima; a majestosa procissão de Nossa Senhora das Dores, em que a população se figura; o sabor único dos típicos pratos gastronómicos e dos tradicionais petiscos, acompanhados do insubstituível verde tinto; o grandioso e culminante do fogo-de-artifício. Por tudo isto e muito mais, as Feiras Novas são consideradas “o maior congresso ao vivo da cultura popular em Portugal”.
Apesar de a enumeração ser longa, na minha opinião, nenhuma descrição, por mais sentida que seja, capta totalmente o espírito alegre e a animação expansiva destes intensos dias de festejos. Actualmente, as Feiras Novas mais do que umas festas concelhias, são já uma marca, uma referência nacional conhecida em toda a parte, atraindo milhares de feirantes e visitantes oriundos dos mais diversos lugares. Aliás, uma das múltiplas funcionalidades sociais da festa popular é justamente a de constituir um elemento de coesão da vida de uma comunidade, é ser padrão identificativo de uma região. É ainda importante saber reconhecer e valorizar a autenticidade e o enorme potencial de uma grande festa com monumental impacto popular, e os emigrantes são prova viva disso. Definitivamente, quem nunca saboreou as Feiras Novas de Ponte de Lima, não conhece uma das mais castiças e vivas festas populares de todo o Alto Minho. Ao longo de três dias de festa, naturais e forasteiros sentem a animação da feira, o pitoresco da romaria e a intensidade da festa. Vivem as Feiras Novas não como espectadores, mas como actores a tempo inteiro, pois as festas e as romarias populares vivem-se, não se admiram apenas exteriormente. Só assim se experienciam os seus elementos lúdicos, dramáticos, gastronómicos, estéticos ou rituais, que caracterizam todas as festas, e só assim se vive uma experiência que já mais se esquecerá.

Catarina Fernandes

[Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3ºano do curso de Economia da EEG/UMinho]

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