quinta-feira, janeiro 12, 2012

Compra da EDP: Bom ou Mau Negócio?

A Energias de Portugal – EDP é uma empresa do sector energético e foi criada em 1976 através da fusão de 13 empresas que tinham sido nacionalizadas em 1975, então com o nome “Electricidade de Portugal”. Como empresa estatal ficou encarregue da electrificação de todo o país, a modernização e extensão da rede de distribuição eléctrica, do planeamento e construção do parque electroprodutor nacional, e de um tarifário único para todos os clientes. Hoje a empresa está verticalmente integrada, com uma posição consolidada na Península Ibérica, quer ao nível de produção, distribuição e comercialização de electricidade como de gás. O grupo EDP tem uma forte presença no panorama energético mundial, estando presente em países como Brasil, Estados Unidos, Reino Unido, Itália, Bélgica, e contando com mais de 10 milhões de clientes e mais de 12 mil colaboradores em todo o mundo. No mercado das energias renováveis, a EDP através da EDP Renováveis é hoje o terceiro maior produtor eólico mundial, com 6227 MWs instalados no final de 2009, e tendo ainda operações e projectos em diversos países. A EDP está cotada no índice PSI-20.
Em 1996 dão-se os primeiros passos na internacionalização. Em Junho de 1997 ocorre a primeira fase de privatização da EDP, tendo sido alienado 30% do capital, operação esta de grande sucesso com a procura a superar a oferta em mais de trinta vezes. Seguiram-se mais cinco fases de privatização: Maio de 1998, Junho de 1998, Outubro de 2000, Novembro de 2004 e Dezembro de 2005. Em 2011 dá-se a privatização mais polémica: a China Three Gorges Corporation – CTG assina o contrato de aquisição de 21,35% do capital social da EDP, cerca de 780.633.782 acções, que constituem objecto de venda directa de referência relativa à 8.ª fase do processo de privatização da empresa, atendendo ao maior mérito da respectiva proposta vinculativa apresentada a 9 de Dezembro, a qual observa, em termos que satisfazem adequadamente o Governo, os critérios de selecção. Contrato avaliado em 2,7 mil milhões de euros (3,45 euros por acção) pela participação que o Estado português detém na EDP, e para além de investir mais de 2 milhões de euros nos projectos de parques eólicos até 2015, comprometeu-se a “melhorar o perfil de crédito” da empresa através de linhas de crédito de 4 mil milhões de euros junto a bancos chineses.
Esta operação é uma das primeira do género feita na Europa no contexto da crise da dívida soberana, porém mais negócios poderão seguir-se à medida que as enfraquecidas economias europeias procuram clientes para ajudar a resolver as suas dívidas. De referir que será uma ajuda para a CTG se expandir internacionalmente, uma vez que já se trata da maior companhia de energias renováveis da China estando envolvida em projectos hidroeléctricos em cerca de 26 países, e tendo em conta que as receitas anuais da EDP representam 9% do PIB de Portugal, a CTG ao se tornar a maior accionista daquela empresa entrará nos mercados da Europa, América e Brasil.
Este negócio insere-se no plano de austeridade do Governo português, a primeira grande privatização de um conjunto de operações de alienação de empresas ou participações públicas em empresas impostas pela troika. Para além da CTG, concorreram ainda as empresas E-On (2,54 mil milhões de euros) da Alemanha e as brasileiras Eletrobras (2,56 mil milhões de euros) e Ceming.
Na opinião da FIEQUIMETAL (Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgica, Química, Farmacêutica, Eléctrica, Energia e Minas) a entrega dos 21,35% que o Estado detinha na EDP à CTG é um “mau negócio” para a economia nacional e para o desenvolvimento do país, com graves consequências para a grande maioria dos portugueses e para os trabalhadores. Afirma ainda que “a decisão do Governo constitui um erro político” e “faz parte de um rumo errado”. Argumenta que o Estado deve ter um papel decisivo na definição e na execução da política energética para que esta procure responder aos interesses mais gerais do povo e do país e não funcione como uma “fonte de lucro garantido e rápido”.
Na minha opinião e tendo em conta o estado em que nos encontramos actualmente sob elevada vigilância da troika, este foi um bom negócio para o país. Para começar a opção de negociar com a China é bastante interessante, uma vez que é aquele que apresentou um valor mais alto bem como um maior número de “regalias” associadas, pois a proposta de compra da CTG contempla investimentos adicionais e abertura de linhas de financiamento, através da instalação de bancos locais em Portugal (China Development Bank expandirá a sua sucursal para Banco e o ICBC, o maior banco do mundo, instalará uma sucursal em Portugal), que são cruciais e que irão assegurar as necessidades de financiamento da EDP na actual conjuntura dos mercados financeiros, com a possibilidade de este valor ser duplicado para 4 mil milhões de euros. Mais, a CTG permitirá à cotada liderada por António Mexia baixar o seu risco de financiamento e melhorar o endividamento, e a redução do custo de refinanciamento poderá implicar um impulso de 5% aos resultados por acção. Por sua vez a venda de participações minoritárias nos activos de geração de energia eólica pode adicionar 6% de valor à EDP, ou seja, 0,15€ por acção. Desta forma, tanto a venda de parte dos activos de geração de energia eólica como os menores custos de refinanciamento da dívida da multinacional vão reforçar a rendibilidade da empresa e o seu valor por acção, alias só o acto de compra por parte da CTG implicou um potencial de valorização de 50% face ao valor de mercado das acções antes da operação.
Em suma, o cheque chinês não trouxe apenas à EDP e à economia nacional um investimento potencial de 8 mil milhões de euros. A imagem da eléctrica nacional junto dos mercados volta a brilhar. A agência de notação financeira Fitch já anunciou que apesar de manter o rating BBB+, vai retirar a empresa de uma classificação de vigilância negativa, ou seja, a empresa já não corre o risco de sofrer cortes de rating a curto prazo. Além da EDP que vai melhorar o seu valor com esta compra, também o país vai beneficiar não só com as vantagens que este negócio acarreta como supramencionei, mas também com a imagem que a pouco e pouco Portugal vai conseguindo melhorar, o que permitirá aos mercados financeiros começar a olhar sobre uma perspectiva mais positiva para o nosso país e acreditando que poderão voltar a fazer investimentos em território luso. Os chineses estão a pagar perto de 8,7 mil milhões de euros para entrarem na EDP, somando o valor que pagam ao Estado pela participação accionista e o cash que vão injectar para reduzir dívida e apoiar o projecto industrial.

Catarina Fernandes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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