terça-feira, novembro 01, 2011

Reflexões sobre a infraestrutura modal rodoviária em Santa Catarina


Santa Catarina é um estado da República Federativa do Brasil. Situa-se na região Sul do país e, apesar de ser apenas o vigésimo território em extensão do Brasil, é a sétima maior economia na federação, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Fruto de uma colonização eclética (além da indígena e luso-brasileira, o território recebeu imigrantes alemães, italianos, poloneses, austríacos, suíços e ucranianos, dentre outros), a economia é bastante diversificada, sendo marcante a influência de cada uma das etnias nas regiões do Estado nas culturas de plantio ou no tipo de indústrias instaladas. Este fator humano, somado à beleza das paisagens naturais, também moldou um dos destinos turísticos de lazer mais importantes do Brasil, sendo a capital Florianópolis uma das mais visitadas do país.
Por causa do forte crescimento econômico do país verificado nos últimos anos, o poder de consumo da população nacional e catarinense cresceu sem que a inflação saísse do controle. Desta forma, os financiamentos para aquisição de bens explodiram ante uma parte reprimida da demanda agregada. Entre outros dados, observa-se que a comercialização de autoveículos, em um horizonte de 5 anos, aumentou em mais de 100%. Considerando-se apenas automóveis (veículos leves), o acréscimo foi de 93,6%.
Tal expansão acabou por expor, de maneira muito clara, a incapacidade dos investimentos públicos em acompanhar o ritmo da demanda. Hoje, podemos considerar os gargalos dos modais de infraestrutura um claro empecilho, não só ao desenvolvimento econômico, como também à própria competitividade dos produtos nacionais.
Em Santa Catarina, o modal rodoviário exibe as “dores do crescimento”. Neste aspecto, isto é, das rodovias que cortam o Estado, a BR-101, no litoral, é a única rodovia com pista dupla. As outras rodovias relevantes são as BRs 116 e 153, que cortam o território no sentido longitudinal, enquanto as BRs 470 e 282 são as principais vias latitudinais. Todas estas vias hoje se encontram estranguladas, seja em apenas um trecho – particularmente no litoral, onde a densidade populacional é maior – ou em toda a sua extensão.
A flagrante incapacidade do governo federal em expandir modais adequadamente tem inúmeras consequências negativas para o Estado. Eis algumas:
- Impede maior integração entre as regiões do litoral e centro/oeste, resultando em migrações para as áreas litorâneas, onde estão as cidades mais prósperas. Este movimento é observado em relação a universitários que estudam no litoral e, depois de formados, não desejam mais retornar às suas cidades de origem.
- Torna injusta a competição, pois apenas as regiões próximas ao litoral dispõem de pista duplicada, uma vantagem competitiva crucial para atrair investimentos produtivos e que o Oeste não possui.
- Compromete a qualidade da oferta turística – apesar da maior frequência hoje observada nos aeroportos.
- Prejudica a própria qualidade de vida dos habitantes, expondo-os a um nível de estresse que gera, como consequência, os aumentos de acidentes de trânsito.
- Dificulta o escoamento da produção, gera custos, atrasos e, consequentemente, perda de competitividade para concorrentes externos.
Apenas estes poucos motivos já são suficientes para perceber a relevância e urgência de um planejamento que vise aumentar substancialmente os gastos, não apenas com o modal rodoviário, mas também com transporte aeroportuário, ferroviário, náutico e até mesmo hidroviário, os quais ajudariam a reduzir a participação das rodovias no transporte de bens. Isto porque as estradas brasileiras respondem por mais de 60% do total transportado no país. Em nenhum outro país de dimensões continentais – Estados Unidos, China, Austrália – se vê algo semelhante. Se esta não for a prioridade, urge que ao menos as rodovias recebam muito mais investimentos do que os montantes observados até o momento.

Guilherme Alvarez do Nascimento

[Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3.º ano do curso de Economia (1.ºciclo) da EEG/UMinho]

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