sexta-feira, outubro 28, 2011

Reforma da Rede Ferroviária


Segundo o documento preliminar do Plano Estratégico dos Transportes (PET), o Governo pretende encerrar, já no próximo ano de 2012, quase 623 quilómetros de linha ferroviária de passageiros, somando-se este valor aos cerca de 900 quilómetros que foram encerrados à circulação a partir de 1987, quando o Governo de Cavaco Silva começou a diminuir a rede existente.
O Governo irá desactivar os serviços de passageiros nas linhas ferroviárias do Leste, do Vouga e do Oeste, entre Caldas da Rainha e Figueira da Foz. Será igualmente desactivada a Linha do Alentejo, entre Beja e Funcheira, mantendo-se a ligação ferroviária de mercadorias às minas de Neves Corvo. A Linha de Cáceres também será encerrada, tal como as linhas do Tua, Tâmega, Corgo e Figueira da Foz, actualmente com circulação suspensa. De acordo com dados da Comboios de Portugal (CP), estas linhas servem por ano aproximadamente 830 mil passageiros. Assim sendo, com estes encerramentos, a rede ferroviária portuguesa de passageiros vai ficar, em 2012, com menos 40% das linhas que possuía no auge da sua actividade, em 1944.
O fim da circulação de passageiros em mais de 623 quilómetros de linha ferroviária, que o Governo prevê realizar, está a gerar uma onda de protestos entre autarcas e a indignar especialistas em mobilidade, empresários e aficionados dos comboios. Os presidentes das câmaras de Leiria, Nazaré e Figueira da Foz manifestaram-se contra a supressão do serviço de passageiros na Linha do Oeste entre Caldas da Rainha e Figueira da Foz.
O presidente da câmara da Mealhada, Carlos Cabral, criticou o encerramento do ramal da Figueira da Foz, enquanto o autarca de Amarante, Armindo Abreu, disse sentir-se “desconsiderado e frustrado” no processo que conduziu ao encerramento da Linha do Tâmega e o autarca de Mirandela, José Silvano, disse que o Governo apenas confirmou “o que já se sabia” quanto à Linha do Tua. Também o movimento cívico e os autarcas de Castro Verde e Ourique repudiaram a desactivação da linha entre Beja e Funcheira.
Posição diferente tem o autarca de Albergaria-a-Velha, João Agostinho, para quem o encerramento da Linha do Vouga não vai afectar as populações do seu concelho, que já não a utilizam por os horários serem desajustados e haver boas acessibilidades rodoviárias. Contudo, o presidente da câmara de Águeda, Gil Nadais, considera que o encerramento da Linha do Vouga vai ser “uma situação extremamente gravosa” para o seu concelho, que se encontra afastado dos principais eixos rodoviários. Os autarcas e empresários da zona de Portalegre estão contra a supressão dos comboios de passageiros na Linha do Leste e prometem lutar contra a decisão.
O presidente da Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos-de-Ferro, Nelson Oliveira, admite que de facto parte da rede ferroviária está desadequada à realidade e não coloca em causa alguns encerramentos, até porque a rede está “muito desfasada do tecido económico e social”, mas critica os encerramentos previstos para as imediações de Aveiro, Espinho e Leiria, zonas com uma densidade populacional extraordinária. Este acrescenta que “Viseu também não pode estar sem caminho-de-ferro”, e que se encontra chocado com “o fim dos comboios nas Caldas da Rainha, que é uma área onde a ferrovia compete com a rodovia”.
No mesmo documento preliminar, é indicado o abandono do projecto de alta velocidade ferroviária Lisboa-Madrid, elaborado pelo anterior Executivo, e a aposta numa linha de mercadorias que ligue os portos portugueses à capital espanhola e, dali, ao resto da Europa. No entanto, o empresário Henrique Neto considera que o Governo está “mais uma vez, a enganar os portugueses” ao dizer que abandonou o projecto da alta velocidade pois este “Prometeu que o congelaria por falta de verbas e agora vai construir uma linha que tem todas as características do TGV e chama-lhe linha de mercadorias”.
Posto isto, depois de mais de 40 anos de forte expansão ferroviária, o mapa ferroviário português ficou completo em 1944 com 3772.6 quilómetros. No entanto, com os encerramentos anteriores e agora anunciados, Portugal perde um total de 1583.2 quilómetros de linha de passageiros sendo que, neste momento, Portugal é o país que nos últimos 20 anos mais linhas encerrou na Europa. Desde há 20 anos este perdeu 44% de passageiros, o que equivale a 100 milhões de passageiros.
Na minha opinião, o encerramento das linhas ferroviárias, sobretudo das que alcançam o interior do país, vem acentuar ainda mais as disparidades que já se fazem sentir e, sobretudo, cria mais um grande entrave ao desenvolvimento e à dinamização do nosso interior. O Governo deveria optar por investir na recuperação e manutenção das linhas já existentes e até mesmo criar novas linhas, evitando situações de isolamento como, por exemplo, a que se vive em Viseu, que tem mais de 100 mil habitantes e não tem acesso a meios de transporte ferroviários.

Tiago Manuel Almeida Rodrigues

[Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]

1 comentário:

Dario Silva disse...

O mapa, a acreditar-se "completo", foi-o no ano de 1949, com a abertura dos últimos troços da Linha do Tâmega Celorico-Arco e o Cabeço de Vide (se não erro)-Portalegre Estação da Linha de Estremoz.