sábado, janeiro 24, 2009

European Cluster Observatory – um olhar para o caso português

O European Cluster Observatory, criado para divulgar dados, dinâmicas e políticas relativas a clusters na Europa, disponibiliza no seu website (http://www.clusterobservatory.eu/), desde 2007, informação regional, relativa a 38 categorias de clusters, com base em 259 regiões, predominantemente NUTS2, cobrindo todos os países da União Europeia e ainda a Islândia, Noruega, Suíça e Turquia. A dinâmica dos clusters foi avaliada através de várias dimensões, nomeadamente tamanho, grau de especialização e peso regional, tendo por base os níveis de emprego de cada região. Como é óbvio este factor conduz a uma sobrevalorização dos clusters intensivos em trabalho por contrapartida da subvalorização dos clusters intensivos em capital, sendo que, apesar de ser desejável que futuramente se melhore a informação a este nível, este trabalho constitui desde já uma excelente ferramenta de análise e comparação. Olhando para o caso português, através desta metodologia, encontram-se 39 clusters, 12 dos quais no Norte, 10 no Centro, 7 em Lisboa, 6 no Alentejo e 4 no Algarve, correspondendo a 23 categorias diferentes, isto é, cobrindo 60% do total de categorias definidas. Tendo por referência o grau de especialização, Portugal aparece nos dez primeiros lugares em 11 categorias, nomeadamente Vestuário (Norte, 1º), Acabamentos de Construção (Centro, 3º), Serviços Especializados (Lisboa, 3º), Materiais de Construção (Centro, 3º; Alentejo, 10º), Construção (Algarve, 1º; Centro, 2º; Alentejo, 3º; Norte, 4º; Lisboa, 7º), Distribuição (Lisboa, 2º; Centro, 8º; Norte, 9º), Pesca (Algarve, 5º), Calçado (Norte, 2º), Turismo (Algarve, 3º), Iluminação/Equipamento Eléctrico (Alentejo, 5º), e Têxteis (Norte, 10º). Estes resultados revelam desde logo o importante peso para todo país, nomeadamente em termos de emprego, dos sectores ligados à construção, e ainda, numa escala inferior, do sector de distribuição. Paralelamente, podemos confirmar através destes resultados a existência de significativa e diferenciada especialização regional, nomeadamente na região Norte (Vestuário, Calçado e Têxtil), Centro (Acabamentos de Construção), Lisboa (Serviços Especializados) e Algarve (Pesca e Turismo). Todos estes clusters, com excepção dos respeitantes ao Algarve, têm uma classificação de três estrelas, o que significa que atingem a nota máxima nas três dimensões avaliadas, ou seja, tamanho, grau de especialização e peso regional. Os dados fazem ainda referência à capacidade exportadora (quando aplicável) e ao grau de inovação de cada cluster. E se no caso das exportações o panorama é globalmente positivo, nomeadamente em relação aos clusters mais significativos (em especial em relação à região Norte), em termos de inovação o panorama é desolador. De facto dos 39 clusters identificados, nenhum é avaliado com o nível elevado em termos de inovação, e apenas 7 (18%), todos na região de Lisboa, são avaliados com o nível médio, sendo todos os outros avaliados com o nível baixo. Significa isto que, apesar de uma significativa estrutura regional especializada, falta uma componente fundamental para uma afirmação mais concreta dos clusters portugueses, a capacidade de inovar. Conforme definido no diamante de Porter (1990), a criação de um ambiente favorável à inovação é um aspecto fundamental no desenvolvimento e competitividade de um cluster, pelo que é absolutamente necessário criar condições para que a inovação surja de forma sustentada nos clusters portugueses, nomeadamente tornando a produção mais intensiva em capital, investindo mais em I&D, trabalhando e cooperando de forma mais próxima com as instituições de investigação e ensino superior, e estimulando o empreendedorismo e o capital de risco ao serviço de potenciais novos produtos e serviços.
Artur Miguel Nogueira Arantes Boaventura da Silva
(texto produzido no âmbito da unidade curricular "Desenvolvimento e Competitividade do Território", do Mestrado em Economia, Mercados e Políticas Públicas, da EEG/UMinho)

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