quinta-feira, julho 31, 2008

Turismo Cultural: uma oportunidade económica do nosso tempo (2)

A actividade turística é uma das formas contemporâneas de aproveitamento dos recursos dos territórios, com peso crescente nalguns deles. Nesta acepção, o desenvolvimento do turismo depende das especificidades de cada região, só sendo viável quando existem recursos que garantam uma vocação turística. Os recursos podem resultar dos atributos naturais, humanos, históricos e culturais dos territórios. O seu aproveitamento económico supõe, todavia, que sejam asseguradas condições básicas nos domínios das infra-estruturas económicas e sócio-culturais.
Para que o turismo possa constituir-se no instrumento de desenvolvimento que antes se refere, aparte a pré-condição acabada de referir, será crucial que seja feito um esforço para a criação de produtos e serviços turísticos inovadores e diversificados, que seja assegurada a concertação de actuações dos seus principais agentes e feito um adequado investimento no equilíbrio ambiental e na valorização do património cultural.
Estas ideias têm suporte na circunstância de, nas últimas décadas, uma nova geração de turistas ter vindo a procurar produtos turísticos crescentemente diversificados. O clima criado por uma sociedade em mudança acelerada, ecologicamente mais consciente, que procura uma nova qualidade de vida, orientada para um contacto mais estreito com a natureza e com o património cultural das regiões visitadas, proporcionou as bases para a diversificação das actividades e dos produtos turísticos.
Sublinhe-se, entretanto, que a actividade turística só fará parte do processo de desenvolvimento regional/local quando for capaz de se integrar na organização global do sistema produtivo e não quando seja implementada como uma prática autónoma. Pensada de outro modo, será disruptora de equilíbrios económicos, sociais e culturais e, muito provavelmente, delapidadora do ambiente.
Foi com este pano de fundo que o tema do “Turismo Cultural” emergiu no Congresso Internacional ´Turismo Cultural e Religioso`, que a TUREL, estrutura sedeada em Braga, dedicada à dinamização do turismo religioso, organizou na Póvoa de Varzim, há poucos meses. Ilustrando a sensibilidade que vai existindo nalguns lugares e em certos agentes para as potencialidades económicas decorrentes do aproveitamento do respectivo património cultural, do referido evento retenho aqui um excerto da intervenção da representante do Instituto de Turismo de Espanha (Elena Vadillo Lobo):
“Conscientes de los cambios experimentados en el ámbito turístico a nivel mundial, entre los que se encuentra una creciente demanda de segmentación, la Administración turística española viene realizando un notable esfuerzo de impulso a la creación de nuevos productos turístico-culturales que satisfagan con unos elevados estándares de calidad una demanda cada vez más exigente y especializada. Fruto de esta segmentación, TURESPAÑA ha desarrollado líneas de promoción específicas orientadas al turismo gastronómico, el turismo idiomático, así como aquel focalizado en eventos o citas culturales de relevancia internacional.”
Aparte denunciar a atenção com que as autoridades políticas de alguns países (neste caso, a Espanha) vão acompanhando as tendências de evolução do mercado turístico, o texto que retenho parece-se-me ilustrar bem a diversidade de segmentos e a complexidade desse mercado, a exigir estratégias de promoção e de aproveitamento bem pensadas e melhor aplicadas, informadas por vínculos estreitos com os territórios turísticos e seus actores.
Gostaria de dizer que é também esse o caminho que está a ser prosseguido em Portugal. Ora, para tanto, importaria que se começasse por não confundir divisões administrativas e unidades territoriais para fins estatísticos com destinos turísticos, e importaria que se olhasse para os territórios a partir dos seus recursos e não da respectiva capacidade de se insinuarem junto dos poderes políticos centrais. Sendo como é, receio bem que o imenso património cultural, material e imaterial, que Leiria e a Alta Estremadura encerram, à semelhança de outros territórios nacionais, de que tomo como exemplo o Minho, continuem a ser negligenciados, com tudo o que isso implica em matéria de perda de oportunidades de criação de emprego e de rendimento e, mesmo, de risco de degradação, por as populações não lhe perceberem a valia económica.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Jornal de Leiria)

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