sábado, junho 07, 2008

A insolvência da Companhia de Cartões do Cávado

1. O caso em estudo situa-se no concelho de Braga, constituído por 62 freguesias e com uma área total de 183,51Km². Aí residem 173946 pessoas, o que dá uma densidade populacional de 942,1 hab/Km².
A freguesia em questão situa-se a NO do conselho de Braga e é designada por Mire de Tibães, com 5,07 km² de área, 2 389 habitantes e densidade populacional de 471,2 hab/km².
De acordo com os dados dos Censos 2001, a população activa total, no concelho de Braga em 1991, era de 67362 pessoas (sendo 37234 homens e 30128 mulheres); em 2001 passou a ser de 85194 (44809 homens e 40385 mulheres). A variação absoluta entre 1991 e 2001 foi de 17832 pessoas, correspondendo a uma taxa de 26,5%.
Através da análise CAE (Classificação das Actividades Económicas), concluímos que o número de empresas no concelho de Braga, tem vindo a aumentar. Como podemos observar na tabela 1, em 1995 existiam 3445 empresas em Braga, em 2000 passaram a ser 4833 e em 2005 já eram 6350.
A actividade que mais se destaca, em todos os anos, é a Cae 5 (comércio por grosso e a retalho; reparação de veículos automóveis, motociclos e de bens de uso pessoal e doméstico), seguida da CAE 4 (produção e distribuição de electricidade, gás e água).
Por sector de actividade, o número de empresas em Braga com maior relevância, corresponde ao sector terciário, CAE 5 a CAE 9, também este em todos os anos referidos. Em 1995 o número de empresas eram de 2078, em 2000 era de 3056 e em 2005 passou para 4291.
No que diz respeito ao desemprego total, segundo os Censos 2001, Braga, contava com 3300 desempregados em 1991 (1464 homens e 1836 mulheres). Em 2001 aumentou para 5896 (2494 homens e 3402 mulheres). Em ambos os anos o maior número de desempregados são mulheres. A variação absoluta entre 1991 e 2001 era de 2596 (78,7%).
Podemos concluir que a falta de postos de trabalho é uma realidade com proporções cada vez maiores no distrito de Braga; e, que em termos regionais, o norte continua a liderar a tabela de desemprego. Sendo os mais afectados os indivíduos com menos formação, uma grande parte afecta à indústria e à construção civil (in Diário do Minho, 26-04-2005).
Relativamente à evolução do desemprego (total do distrito), em Dezembro de 2006, obteve-se um número total de desempregados de 47990. Este valor diminuiu em 2007, passando a ser de 40180. Registou-se, portanto, uma taxa de variação, entre Dezembro 2006 e Dezembro 2007, de menos 16% (dados do Boletim Estatístico, Governo Civil de Braga).
Em Portugal Continental, contabilizou-se um total de 440125 de desempregados em 2006, e de 377436 em 2007. Obtendo uma taxa de variação de menos 14%.

2. Breve história da Empresa Companhia de Cartões do Cávado, S.A
No lugar de Ruães, freguesia de Mire de Tibães, concelho e distrito de Braga, funcionava a empresa “Companhia de Cartões do Cávado, S.A.”.
Fundada em 1967, esta unidade fabril procedia à recolha e transformação de todo o tipo de cartão proveniente de vários locais.
As máquinas, movidas a energia eléctrica, reciclavam desperdícios de papel e cartão, produzindo cartão (diariamente processavam entre trinta a quarenta toneladas de material).
O cartão produzido destinava-se ao fabrico de capas de arquivo, encostos de cadeiras, molduras para fotografias entre outros artigos. Além de abastecerem o mercado interno, também exportavam para a Alemanha, França, Suíça, Grécia e Espanha.
Esta unidade fabril, que iniciou a sua actividade há cerca de 39 anos, tinha preocupações ambientais, pois as águas residuais produzidas, eram tratadas numa ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais) própria, evitando desta forma poluir o ambiente.
A empresa Companhia de Cartões do Cávado requereu o processo de insolvência em Março passado, por motivo das elevadas dívidas à Segurança Social e ao Fisco, acumuladas.
"As dívidas da empresa são da ordem dos cinco milhões de euros, sendo 30% à Segurança Social e 9% às Finanças. Na altura de apresentação do requerimento, o dinheiro a receber dos clientes atingia os 800 mil euros", disse à Lusa Carlos Marinho, da União de Sindicatos de Braga.
Os mais de 100 trabalhadores, eram credores de um milhão de euros (indemnizações, salários e direitos vencidos). A empresa deixou de pagar os salários a partir de Abril e há muito que havia grande irregularidade na data do seu pagamento.
As organizações dos trabalhadores acusam a Administração de falta de investimento e má gestão, denunciando igualmente os baixos salários que a empresa pagava (a maioria dos trabalhadores recebia menos de 500 euros e 40 auferiam o salário mínimo).
Apesar de tudo, esta unidade fabril, continuou a trabalhar até 31 de Maio. No dia 1 de Junho, a EDP cortou o abastecimento de energia eléctrica e a empresa deixou de laborar.
Não existe, tanto quanto se sabe, nenhum plano de viabilização da empresa, pois o passivo da fábrica, estimado, na altura, em cinco milhões de euros, inviabilizou qualquer solução de um plano de recuperação industrial.

Carlos Eiras
(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho - reprodução parcial)

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